O Francisco Adam, o Dino dos Morangos com Açucar, morreu ontem de madrugada num acidente de automóvel. Eu, que sou daquelas mães que vêem quase sempre a série em questão, conhecia bem o miúdo, um puto bonito e talentoso a dar-se ares de Paul Newman, que nos entrava todos os dias casa dentro mais as suas confusões com as babes. Como actor, era um dos melhores e o seu personagem engatatão bem-disposto era absolutamente central na trama. Os meus filhos e os amigos estão confusos, acham estranho continuar a vê-lo na televisão nos episódios já gravados e depois, nos intervalos, a TVI espetar-lhes com o velório em cima. A minha filha mais velha passou o dia de ontem a enviar mensagens de solidariedade para com o Dino, numa corrente que se formou de forma que desconfio pouco espontânea, atenta a venalidade das operadoras telefónicas, sempre à coca de situações onde possam facturar com o envio em série de SMS. Hoje, ela não está a ver os morangos e já pespegou meia dúzia de posters do Dino no quarto, onde se encontra, a escrever um texto que me pediu que eu publicasse aqui no blogue, que me diz ser lido por muita gente. Eu disse que sim. Com os mais pequenos é mais complicado: estão em frente à televisão de semblante triste, especialmente atentos às cenas em que aparece o Dino e, ao contrário do que é habitual, não há risotas nem comentários a latere, nenhum me pede qualquer explicação ou esclarecimento, nem me chama a atenção para um pormenor mais engraçado ou picante. E eu só dou por mim a pensar, egoisticamente, que daqui a uns anos também eles vão sair à noite e se calhar andar a abrir às quatro da manhã, a acharem-se os maiores, invencíveis e imortais, como todos os outros, como todos nós já nos achámos. Este post acaba de chofre e sem qualquer tipo de moral adjacente ou proposta de solução. É assim, é apenas assim, a vida: às vezes, uma bela merda; outras, uma questão de sorte.
O Francisco Adam, o Dino dos Morangos com Açucar, morreu ontem de madrugada num acidente de automóvel. Eu, que sou daquelas mães que vêem quase sempre a série em questão, conhecia bem o miúdo, um puto bonito e talentoso a dar-se ares de Paul Newman, que nos entrava todos os dias casa dentro mais as suas confusões com as babes. Como actor, era um dos melhores e o seu personagem engatatão bem-disposto era absolutamente central na trama. Os meus filhos e os amigos estão confusos, acham estranho continuar a vê-lo na televisão nos episódios já gravados e depois, nos intervalos, a TVI espetar-lhes com o velório em cima. A minha filha mais velha passou o dia de ontem a enviar mensagens de solidariedade para com o Dino, numa corrente que se formou de forma que desconfio pouco espontânea, atenta a venalidade das operadoras telefónicas, sempre à coca de situações onde possam facturar com o envio em série de SMS. Hoje, ela não está a ver os morangos e já pespegou meia dúzia de posters do Dino no quarto, onde se encontra, a escrever um texto que me pediu que eu publicasse aqui no blogue, que me diz ser lido por muita gente. Eu disse que sim. Com os mais pequenos é mais complicado: estão em frente à televisão de semblante triste, especialmente atentos às cenas em que aparece o Dino e, ao contrário do que é habitual, não há risotas nem comentários a latere, nenhum me pede qualquer explicação ou esclarecimento, nem me chama a atenção para um pormenor mais engraçado ou picante. E eu só dou por mim a pensar, egoisticamente, que daqui a uns anos também eles vão sair à noite e se calhar andar a abrir às quatro da manhã, a acharem-se os maiores, invencíveis e imortais, como todos os outros, como todos nós já nos achámos. Este post acaba de chofre e sem qualquer tipo de moral adjacente ou proposta de solução. É assim, é apenas assim, a vida: às vezes, uma bela merda; outras, uma questão de sorte.
Um almoço, extraviado por demorasentretantas, que hoje em dia qualquer encontro entre dois seres humanos é quase um acerto ao acaso na mouche da data aprazada. Por fim, qualquer coisa que se cumpriu (talvez o alinhamento propício dos planetas, porque não?) e lá se encontraram em quatro meias horas que lhes pareceram menos que duas, partidas ao meio. Apesar dos meses em que nem se haviam lembrado de que o outro existia (ou haviam-se lembrado assim como quem rapa as migalhas do fundo do pacote das bolachas, com uma gulodice displiscente), uma vez frente a frente e com um bom tinto de permeio, cuidaram de tudo contabilizar, informaticamentalmente, registando pesos, medidas e formas, num balancete favorável às exigências dos sentidos. Iam comendo e apreendendo as palavras, os tiques e os gestos, até então omissos do vocabulário afectivo do outro, digerindo-os com gosto. Quando, por fim, se esgotou o tempo que haviam tomado emprestado, deram-se a face e apressaram-se aos seus universos paralelos, bem sabendo da improbabilidade de futuras intersecções - percepção que, não obstante, lhes transmitiu o conforto morno de um velho sofá de sala. A indiferença pode ser uma forma de aconchego onde nos limitamos a deixar os nossos contornos para que neles se deite quem venha a seguir.
Um almoço, extraviado por demorasentretantas, que hoje em dia qualquer encontro entre dois seres humanos é quase um acerto ao acaso na mouche da data aprazada. Por fim, qualquer coisa que se cumpriu (talvez o alinhamento propício dos planetas, porque não?) e lá se encontraram em quatro meias horas que lhes pareceram menos que duas, partidas ao meio. Apesar dos meses em que nem se haviam lembrado de que o outro existia (ou haviam-se lembrado assim como quem rapa as migalhas do fundo do pacote das bolachas, com uma gulodice displiscente), uma vez frente a frente e com um bom tinto de permeio, cuidaram de tudo contabilizar, informaticamentalmente, registando pesos, medidas e formas, num balancete favorável às exigências dos sentidos. Iam comendo e apreendendo as palavras, os tiques e os gestos, até então omissos do vocabulário afectivo do outro, digerindo-os com gosto. Quando, por fim, se esgotou o tempo que haviam tomado emprestado, deram-se a face e apressaram-se aos seus universos paralelos, bem sabendo da improbabilidade de futuras intersecções - percepção que, não obstante, lhes transmitiu o conforto morno de um velho sofá de sala. A indiferença pode ser uma forma de aconchego onde nos limitamos a deixar os nossos contornos para que neles se deite quem venha a seguir.
da série "Muitas e Boas Razões Para Não Ter Um Blogue", parte um :</b></font>
Diálogo entre mãe e filha, sendo que esta acabara de correr o google à procura da imagem de uma concha do mar para efeitos de um trabalho de Ciências da Natureza.
- Mãe, andei à procura de imagens de conchas na net. Escrevi conchas, depois vieiras e, às tantas, saiu-me uma fotografia de um homem nu com uma concha a tapar-lhe assim a...a parte da frente (risinho idiota).
- Ó filha, mas o que é que isso pode ter a ver com conchas ou vieiras???
- Pois...é que na legenda dizia qualquer coisa como da rititi para a vieira do mar, e eu...bem, mãe, eu acho que aquilo devia ser para ti, daquela tua amiga que vive em Madrid, a Rita, não é? Mas eu juro que não abri a fotografia, mãe! Juro.
- Ai filha, não abras, não abras! Se te aparecer mais qualquer coisa relacionada com vieira do mar: textos, imagens ou assim - especialmente se vindos da rititi! -, deixa-os estar quietinhos, ouviste? Quando quiseres imagens de conchinhas, querida, pede à mãe que a mãe arranja, ok?
- Ok, mãe, mas olha que tu apareces que te fartas no google, é bué fixe, tenho uma mãe famosa na net! Acho que não vou aguentar, tenho de contar às minhas amigas...
-Tu nem te atrevas, olha que ficas sem mesada! E não te carrego o telemóvel!
- Ora, mãe... francamente (abanar de cabeça e riso meio torcido, misto de orgulho e de desprezo. virar de costas).
da série "Muitas e Boas Razões Para Não Ter Um Blogue", parte um :</b></font>
Diálogo entre mãe e filha, sendo que esta acabara de correr o google à procura da imagem de uma concha do mar para efeitos de um trabalho de Ciências da Natureza.
- Mãe, andei à procura de imagens de conchas na net. Escrevi conchas, depois vieiras e, às tantas, saiu-me uma fotografia de um homem nu com uma concha a tapar-lhe assim a...a parte da frente (risinho idiota).
- Ó filha, mas o que é que isso pode ter a ver com conchas ou vieiras???
- Pois...é que na legenda dizia qualquer coisa como da rititi para a vieira do mar, e eu...bem, mãe, eu acho que aquilo devia ser para ti, daquela tua amiga que vive em Madrid, a Rita, não é? Mas eu juro que não abri a fotografia, mãe! Juro.
- Ai filha, não abras, não abras! Se te aparecer mais qualquer coisa relacionada com vieira do mar: textos, imagens ou assim - especialmente se vindos da rititi! -, deixa-os estar quietinhos, ouviste? Quando quiseres imagens de conchinhas, querida, pede à mãe que a mãe arranja, ok?
- Ok, mãe, mas olha que tu apareces que te fartas no google, é bué fixe, tenho uma mãe famosa na net! Acho que não vou aguentar, tenho de contar às minhas amigas...
-Tu nem te atrevas, olha que ficas sem mesada! E não te carrego o telemóvel!
- Ora, mãe... francamente (abanar de cabeça e riso meio torcido, misto de orgulho e de desprezo. virar de costas).
Ah, porra! Até que enfim encontrei a chave! Porque às vezes não tenho paciência para aquelas coisas dos gregos, enquanto ela apanha secas de morte a ler as minhas estórias lamechas;porque aqueles rappers de alcunhas impronunciáveis não se aguentam e mais um bocadinho e deito tango pelas orelhas; porque ela quase vomita quando me ataca a nostalgia dos oitentas; porque aquele amarelo já deu o que tinha a dar e a gente vai tratar disso imediatamente e ela, quando aqui entra, tem que gramar com o color clash e os templates a dar para o kitsch, para não dizer para o foleiro; porque eu mordo e roo as canelas de quem presumaque a conhece e vomite barbaridades sobre ela; sim, ela - que não me deixa estar triste e telefona e chateia e puxa daqui e dali e chora comigo e rimos que nem umas malucas (nem ninguém imagina quanto e como e com que desmesura nos divertimos), porque hoje faz três anos o melhor blogue português que, por acaso, é dela, e porque os amigos fazem tudo uns pelos outros, inclusive, reabrem blogues trancados a sete chaves.
Parabéns, minha querida. Para ti, uma das minhas salsas favoritas, Indestructible, do Ray Barreto, um grande senhor destas coisas.
Ah, porra! Até que enfim encontrei a chave! Porque às vezes não tenho paciência para aquelas coisas dos gregos, enquanto ela apanha secas de morte a ler as minhas estórias lamechas;porque aqueles rappers de alcunhas impronunciáveis não se aguentam e mais um bocadinho e deito tango pelas orelhas; porque ela quase vomita quando me ataca a nostalgia dos oitentas; porque aquele amarelo já deu o que tinha a dar e a gente vai tratar disso imediatamente e ela, quando aqui entra, tem que gramar com o color clash e os templates a dar para o kitsch, para não dizer para o foleiro; porque eu mordo e roo as canelas de quem presumaque a conhece e vomite barbaridades sobre ela; sim, ela - que não me deixa estar triste e telefona e chateia e puxa daqui e dali e chora comigo e rimos que nem umas malucas (nem ninguém imagina quanto e como e com que desmesura nos divertimos), porque hoje faz três anos o melhor blogue português que, por acaso, é dela, e porque os amigos fazem tudo uns pelos outros, inclusive, reabrem blogues trancados a sete chaves.
Parabéns, minha querida. Para ti, uma das minhas salsas favoritas, Indestructible, do Ray Barreto, um grande senhor destas coisas.