chego à escola a meio da manhã
por Vieira do Mar, em 28.01.05
para lhe entregar a mochila esquecida em casa.
No meio da confusão, descubro-o lá ao fundo lavado em lágrimas por não sei por quê. Cedo à tentação animal de correr, de lhe lamber as lágrimas e de o embalar no meu colo. Aproximo-me dele com calma, limpo-lhe as lágrimas com a palma da mão e enquanto lhe entrego a mochila, pergunto-lhe o que se passou. Segue-se um arrazoado dos amigos, mais lágrimas, as gagas justificações dos inimigos, e ainda mais lágrimas. Em resumo, está na moda um jogo com uma espécie de tazos, que são usados em apostas. Só que os maiores fazem batota e amanham-se com os tazos dos mais fracos.
Sinto a minha mão indecisa entre disparar para a bochecha do ladrão badocha, ou abrir-lhe à força os dedos, que apertam ciosos a porcaria dos tazos que acho que são do meu filho. Na incerteza, baixo a mão.
Cedo ainda à vontade de voar à papelaria da esquina, comprar todo o stock de tazos e cobrir com eles a tristeza do meu filho.
Por fim, dou-lhe um beijinho, faço-lhe uma festa na cabeça como que a dizer deixa lá, não ligues, atiro um olhar de lança-chamas ao badocha, que se encolhe, e vou-me embora, com o coração esmifrado, torcido e apertado como num torno.
É um facto: no microcosmos social que é o recreio, impera a lei do mais forte e não há professora ou vigilante que o possam impedir. Sinto que devo estar mais atenta.
No meio da confusão, descubro-o lá ao fundo lavado em lágrimas por não sei por quê. Cedo à tentação animal de correr, de lhe lamber as lágrimas e de o embalar no meu colo. Aproximo-me dele com calma, limpo-lhe as lágrimas com a palma da mão e enquanto lhe entrego a mochila, pergunto-lhe o que se passou. Segue-se um arrazoado dos amigos, mais lágrimas, as gagas justificações dos inimigos, e ainda mais lágrimas. Em resumo, está na moda um jogo com uma espécie de tazos, que são usados em apostas. Só que os maiores fazem batota e amanham-se com os tazos dos mais fracos.
Sinto a minha mão indecisa entre disparar para a bochecha do ladrão badocha, ou abrir-lhe à força os dedos, que apertam ciosos a porcaria dos tazos que acho que são do meu filho. Na incerteza, baixo a mão.
Cedo ainda à vontade de voar à papelaria da esquina, comprar todo o stock de tazos e cobrir com eles a tristeza do meu filho.
Por fim, dou-lhe um beijinho, faço-lhe uma festa na cabeça como que a dizer deixa lá, não ligues, atiro um olhar de lança-chamas ao badocha, que se encolhe, e vou-me embora, com o coração esmifrado, torcido e apertado como num torno.
É um facto: no microcosmos social que é o recreio, impera a lei do mais forte e não há professora ou vigilante que o possam impedir. Sinto que devo estar mais atenta.