ariadne
Ela desbaratava-se, consumia-se inútil, uma vela acesa num quarto vazio, procurando-o por nome, apelido e actividade profissional, sabendo quando chegava, quando se ia e nada lhe dizia, só não sabendo porque nada lhe dizia, num entretém masoquista em círculos, no qual se mordia a cauda. Puxava para si os fios que a ele conduziam, seguindo-o nos fóruns, nas opiniões das quais discordava, nos gostos que não os seus, mantendo intacta a necessidade de lhe participar a inquietação, de o notificar da dificuldade por vezes em adormecer, outras em se levantar, bem como da persistência dos cheiros, que se elevavam acima da ausência da Primavera, e das coisas que teimavam em assumir outras formas, como ele preso dentro dela, em construção, um navio feito de fósforos estrangulado numa garrafa de vidro.