livre, voluntaria e conscientemente
Desculpamos-lhes tudo ou quase tudo. A incapacidade de verbalizarem adorações, de distinguirem qual a cor mais bonita para um determinado efeito; os mutismos inesperados, as traições virtuais e às vezes até as reais; perdoamos-lhes que sejam uns totós e uns nerds inexperientes pois até são queridos, ou que por outro lado saibam demais (até mais do que nós), o que no fundo nos enche de orgulho. Não nos importamos que não ouçam as mesmas músicas, que adormeçam no cinema, ou que tenham fixações estranhas por carros, livros, política, futebol ou computadores; nem que não queiram ter filhos ou que, pelo contrário, olhem para nós como a grande mama do planeta terra. Mas quase nenhuma mulher perdoa um homem que se arme desbragadamente em bom à sua frente. Um homem que se dê ao trabalho de enumerar conquistas ou virtudes ao mesmo tempo que se espaneja como um galináceo, é mentalmente trucidado por uma mulher inteligente. Ele não percebe que, para que uma mulher o ache de facto bom (como amigo, na cama, o que for), terá que o demonstrar - ou seja, ela terá que o descobrir por si própria através das regras da experimentação empírica. Ninguém tem tanto olho como nós para a má propaganda: isto são muitos e muitos anos de compras, de trocas, de devoluções e de reembolsos, e não basta uma etiqueta vistosa dizer pure silk para que nós acreditemos. É por isso que os falsos modestos se safam sempre melhor; até porque nós não nos importamos de saber que a modéstia é falsa: o que conta é a atitude. E a atitude é ele às tantas dizer he pá eu sei que até não sou nada de especial, não sei o que viste em mim, enquanto nos faz um truquezinho qualquer maravilhoso. Porque logo uma coisa nasce do fruto do nosso ventre que nos leva a pender para aquele macho fora do comum que, estranhamente confiante em nós, viúvas negras, não tem medo de pôr à mostra as suas fraquezas e de dizer tomai e bebei, este é o meu sangue (lamento as analogias católicas, mas é só o que me sai, apesar de vos afiançar do meu estado pouco pio). No fundo, o que eu quero dizer é isto: nada é mais irresistível para uma mulher do que um homem pôr-se voluntária, livre e conscientemente à sua mercê (aprendam e pratiquem, rapazes - aprendam e pratiquem).