o prusidente da junta
por Vieira do Mar, em 25.11.08
Não há nada mais terapêutico do que um blogue: poder destilar publicamente o fel que se sente por determinada personagem pública e escrever-lhe o nome em minúsculas, apoucando-o de forma mesquinha, é um bálsamo para a alma. Se bem que eu não detesto especialmente muita gente, apenas uns dois ou três; quatro ou cinco, vá. Um deles é cavaco silva. Não quero exagerar, mas por vezes parece-me trágico isto de termos um parolo do Poço de Boliqueime (perdão!, da Fonte de Boliqueime) no cargo mais alto da nação. Não duvido que cavaco seja um homem íntegro e justo e bom mas, francamente, para a Presidência da República isso não interessa nada. O que interessa é ter pinta, estilo, saber estar, falar e ficar calado quando é preciso. Ora, este presidente, depois de ter sido um activo primeiro-ministro, tornou-se naquilo a que, em Direito, chamamos de inutilidade superveniente da lide: não tem qualquer prestação para a nação. E depois, é saloio: muito saloio. E a saloiíce não se manifesta apenas nas dificuldades de dicção ou nas saias travadas da sua maria; manifesta-se nas pequenas coisas (ser parolo é basicamente ter um espírito pequenito e colado ao sítio onde se nasceu), como no ter medo de perder meia dúzia de poderzitos (vd. a história do Estatuto dos Açores), no falar de si na terceira pessoa (o presidente da república tem que… o presidente da república não pode...), e agora nisto de fazer comunicados oficiais armado em virgem ofendida. Porque um PR não se desculpa nem desmente insinuações, pelamordedeus! Um PR deve ficar-se pelo seu pedestal de PR, a encontrar-se com outros chefes de Estado, a comer de boca fechada nos banquetes, a fazer sala com outras primeiras damas e a deixar que os conselheiros o avisem quando o governo mete a pata na poça ao legislar, para que vete a lei e o povo se aperceba da asneira. Um PR deve pairar sobre questiúnculas de natureza venal, e não vir a correr dizer que não teve nada a ver com elas. Não deve, sequer, admitir publicamente que tal hipótese tenha passado pela cabeça do povo, a ponto de ter que vir dissipar dúvidas. Se queria marcar uma posição sobre o regabofe vergonhoso em que se tornou isto dos bancos de investimento em Portugal, então que se pronunciasse sobre o seu acólito e o Conselho de Estado, essa sim, uma questão digna de um PR, que ainda por cima é o chefe da coisa. Mas não: quanto à única questão de Estado (por isso mesmo, digna de ser publicamente esclarecida), disse nada. Patético. E parolo, lá está: mais uma vez, o espírito do campónio honrado de boliqueime faz das suas (salve-se a minha honra e a da minha maria, ai que não queremos que a vizinha zefa coxa pense mal de nós… nem é por nossa causa, ca gente não liga a isso, é pela dignidade do cargo que desempenhamos: o prusidente da junta não pode ver o seu nome arrastado pela lama).
Note-se que, apesar de um bocadito snob, não tenho nada contra campónios honrados (aliás, acho a honradez e a integridade características muito boas e úteis, em especial quando faz trovões); acontece que, salvo raras excepções (como por exemplo aquele rapaz de barbas, o... não, esperem, afinal não conheço nenhuma) não dão bons chefes de Estado.