divórcio
Estou a ouvir o Prós e Contras sobre a nova lei do divórcio e acho extraordinário: esta gente que fala de pais e mães responsáveis, de cônjuges que dialogam, de partilhas justas, de crianças felizes, vive num país que não é de certeza o meu. Não conheço o diploma em pormenor; sei, como toda a gente, que arreda a noção de culpa e permite o divórcio unilateral. Compreendo perfeitamente a posição de Rita Lobo Xavier que, embora tenha alguma dificuldade em ser convincente (o sotaque dondoca não ajuda), é a única que parece reconhecer o país que temos. Há um indivíduo com tiques homossexuais, agressivo e irritante, que quer à viva força que toda a gente se separe, o que se compreende. Há uma mediadora que, contra todas as probabilidades e atenta a profissão que tem, é uma idealista no estado puro. Há uma jurista com sotaque madeirense, um bocado colérica, que diz não se rever na mulher portuguesa dos anos setenta. Melhor para ela; esquece-se no entanto que mulheres dos anos setenta (cinquenta? sessenta?) é o que temos para aí mais e que é a elas que a lei se vai aplicar. Parece que quase todos acham bem que a guarda dos menores seja, por regra, conjunta, o que é hilariante. Há uma advogada na assistência muito sensata, com quem é fácil criar empatia, e que quando intervém fá-lo acertadamente. Facilitar o divórcio parece-me bem, ninguém deve ser obrigado a ficar casado se não quer. Mas esta gente esquece-se de que, nos moldes em que pelos vistos a lei o prevê e neste país em concreto, isso significará a desprotecção da mulher e dos filhos, dependentes, e a impunidade do macho agressor, do pai relapso, do marido ausente. E estes são uma fatia muito significativa dos casamentos portugueses. Quais diálogos ou acordos, quais guardas conjuntas ou responsabilidades parentais, tenham a santa paciência! Os casos em que o diálogo entre dois divorciados resulta são uma insignificante minoria. Há, isso sim, muitas mulheres exploradas e muitos maridos, bêbados ou sóbrios, desempregados ou ricos, irresponsáveis e egoístas, que não querem saber, que não dão um tostão aos filhos e que não descansam enquanto não tiram às mulheres a parte que lhes cabe no pecúlio conjugal. E que são a maioria, porque o país é atrasado e é assim. Mas o mais triste é que, no debate que estou a ver, são as mulheres as que menos se interessam por esta realidade - que pelos vistos acham despicienda ou residual - e que é chamada à colação (vejam bem!) por um ou dois dos homens presentes. Mais uma vez o PS, na sanha de deixar marca, mete o carro à frente dos bois. Cheira-me a grande confusão. Mas, pior ainda, cheira-me que as desgraçadas das mulheres por esse país fora, que tocam para a frente a casa e os filhos sem saberem bem como, estão ainda mais lixadas e desprotegidas do que já estavam. É que não bastava a vergonhosa impunidade criminal da violência doméstica... Decididamente, este não é um governo amigo das mulheres.