alguns homens
Era miúda quando, num daqueles filmes antigos que passavam a toda a hora na RTP, o vi pela primeira vez. Já não me lembro exactamente qual seria o filme, só sei que, bronzeado e em tronco nu, um deus, preparava-se para saltar do cimo de uma prancha. Naquele breve momento em que ficou ali imóvel a eternizar a Beleza num televisor a preto e branco, o meu coração bateu mais depressa, parei de respirar (juro) e posso garantir que qualquer coisa aconteceu um bocadinho mais abaixo, um formigueiro secreto que me fez apertar as pernas. Foi aí que eu e o desejo físico fomos apresentados. Mas só muito tempo depois, a pungente perseguição que Maggie move, casa fora, ao escorregadio e indiferente Brick , me fez algum sentido, embora então, nesses anos remotos de alegre despreocupação amorosa, eu ainda não tivesse experimentado na carne aquele desespero suicida dela, que por vezes sobrecarrega o desejo como um fardo. É claro que isto só faz sentido com alguns homens, poucos (muito poucos).