dá-lhe o "S 26 HA" com o biberão Dior e pronto, querida
A propósito, aqui vai breve diálogo pós-parto com puérpera e enfermeira de hospital particular (este aspecto é importante), sendo que aquela acabava de ter um terceiro filho com o módico peso de quatro quilos e meio e uns maneirinhos cinquenta e três centímetros de comprimento, pelo simpático método de cesariana (à santa epidural, ajoelhai e rezai).
Enfermeira (de ora em diante designada por "parva") - Mãe, já lhe trago o seu bebé para começarmos a dar de mamar....
(note-se o uso carinhoso-impositivo da primeira pessoa do plural e a despersonalização obtida com o uso da palavra mãe)
Puérpera - Ai não traz não, que eu não me consigo mexer para me virar de lado, nem sequer para me chegar para cima; aliás, quase nem consigo respirar e só a perspectiva de poder ter vontade de tossir me dá arrepios... isto dói imenso... dê-lhe suplemento, está bem?
("suplemento" é um eufemismo para "biberão de leite artificial" que contém ínsito um juízo de censura desmotivante: como o nome indica, serve para complementar a mama em caso de necessidade e não primeiro e exclusivo alimento do bebé, nem pensar)
Parva - Nã nã nã nã... Oh mãe, como é que pode pensar em fazer uma coisa dessas ao seu filho?! Das outras vezes não amamentou?
Puérpera - Sim, mas...
Parva - E o leite não era bom?
Puérpera - Era, mas...
Parva - Então, deixe-se de coisas e faça lá esse sacrificiozinho pelo seu filho! Ele merece, não acha?!
(....)
Poupo-vos à resposta que se seguiu. Só vos digo que uma gaja que acabou de parir e que, já sem o efeito da santa epidural, se contorce com dores por ter as entranhas repuxadas e acabadas de coser, não se encontra especialmente receptiva as juízos moralistas vindos de "profissionais de saúde" parolas e fundamentalistas, que ainda por cima resolvem teimar e não percebem à primeira. Aquilo foi uma devastação que ficou nos anais do dito hospital.
Ah, e já agora: o puto não-alimentado-a-leite-materno manteve-se sempre nos percentis máximos, aprendeu a ler e a escrever sozinho aos cinco anos, é o melhor aluno da escola dele e joga futebol que se farta. Só por acaso, mas é um facto.
adenda: a propósito, recebi dois ou três mails de mães-cesarianas que se questionavam sobre as tantas dores que eu alegadamente sentia. O tom, comum a todas, é mais ou menos este: Vieira, eu não sou fundamentalista e dei de mamar porque quis mas… as dores eram assim tantas que a impedissem de se virar de lado e amamentar o seu filho?!