perdi o interesse
por Vieira do Mar, em 23.06.08
Por Madonna. A artista outrora excepcional, inovadora, que não tinha comparação com nenhuma outra, deu lugar a uma máquina venal destituída de coração e de bom-gosto, que agora lança o isco às criancinhas, através de duvidosas parcerias com Timberlake e Timbaland. Não por acaso, este seu último hit é sabido de cor pelos meus filhos - a geração Cidade FM - e razoavelmente ignorado por mim e pela minha geração. Madonna lembra-me uma espécie de andróide que tenha perdido, por fim e por completo, a sua humanidade. O corpo, convertido num objecto desagradável e masculinizado, espelha bem as suas obsessões. Na cara lisa, sem traço da passagem dos anos e da vida, repuxada pelo bisturi, adivinham-se já os rasgos clownescos que infectam as divas velhas. Imagino-a uma Gloria Swanson ginasticada, a descer a escadaria de Sunset Boulevard em triplos mortais. O talento que por ela ainda exista não chega para ultrapassar a ideia de uma criatura doentia e tirana, a fazer cada vez pior música e a perder a famosa capacidade de se reinventar. Manter-se-á como um ícone, e como a mulher que fez mais pela revolução sexual e de costumes do que todas as feministas juntas, mas, a partir de agora - e mesmo que continue a vender milhões e a esgotar concertos em vinte e quatro horas - será sempre a descer. É que não há plástica nem ginásio que lhe disfarcem a falta de alma.