os espertinhos/sacanas/estafermos (riscar o que não interessa) *
por Vieira do Mar, em 13.05.08
Eles são mais espertos do que nós, muito mais! E isto às vezes é uma luta.
Estão a ver aqueles momentos em que nos chateiam a medula porque querem e querem e querem uma coisa qualquer e nós a repetir que não que não e que NÃO? E eles, Vá láaaaaa mãeeeee!, e nós, Já te disse que NÃO!. De repente toca o telefone; na pior das hipóteses é um banco espanhol a impingir um crédito; na melhor, é uma amiga que tem novidades para contar. E a gente, ingénuas parvas, instalamo-nos no sofá, ansiosas por sabermos quem está mais gorda e quem anda com quem. Eles põem-se à espreita, estrategicamente à espreita. Esperam pacientemente que passe a fase dos gritinhos de reconhecimento mútuo e dos vinte e dois Como estás querida?, e que a gente engrene e se entrose na conversa por forma a que seja quase impossível parar de repente, tipo sexta metida. E é então que atacam sem dó nem piedade: Mãeeee! Mãeee! Posso fazer/comer/ver/ aquilo que te pedi há bocado? Posso, mãe, posso? Sim? Sim? E puxam-nos pelas mangas. E espetam-nos os dedos no cotovelo. E nós, sem lhes podermos oferecer uma lamparina que parece mal, ainda lhes arremelgamos os olhos, pomos a mão no bocal e sussurramos um Não! enraivecido, mas eles não desistem, sabem que estão em vantagem. Mal nos viramos para o bocal , Ai sim? Tu não me digas que ela fez isso, a cabra!, e lá estão eles outras vez, com um Mãeeee! agora mais alto, e as carinhas de súplica coladas ao nosso nariz ou aos nossos ouvidos, enquanto a amiga do lado de lá descreve as acrobacias eróticas que pratica com o namorado novo - o que faz com uma minúcia que visa apenas alimentar o propósito da nossa inveja de esposas em estado de conserva, claro. Ao fim de alguns (longos) segundos do mais puro, indecente e descarado assédio filial, e da mais pura e contida raiva maternal, todas cedemos: todas! E quando desligamos, constatamos sem surpresa que o estafermo já se empanturrou com três bollycaos e as gomas todas do Natal, já bebeu duas coca-colas, passou seis níveis na playstation, mamou três episódios de Wrestling na SIC Radical, transformou a sala em ringue de batalha, and so on and so on and so on. E nós nada dizemos, culpadas por não lhes termos dado a devida atenção nas últimas duas horas (sacanas).
Estão a ver aqueles momentos em que nos chateiam a medula porque querem e querem e querem uma coisa qualquer e nós a repetir que não que não e que NÃO? E eles, Vá láaaaaa mãeeeee!, e nós, Já te disse que NÃO!. De repente toca o telefone; na pior das hipóteses é um banco espanhol a impingir um crédito; na melhor, é uma amiga que tem novidades para contar. E a gente, ingénuas parvas, instalamo-nos no sofá, ansiosas por sabermos quem está mais gorda e quem anda com quem. Eles põem-se à espreita, estrategicamente à espreita. Esperam pacientemente que passe a fase dos gritinhos de reconhecimento mútuo e dos vinte e dois Como estás querida?, e que a gente engrene e se entrose na conversa por forma a que seja quase impossível parar de repente, tipo sexta metida. E é então que atacam sem dó nem piedade: Mãeeee! Mãeee! Posso fazer/comer/ver/ aquilo que te pedi há bocado? Posso, mãe, posso? Sim? Sim? E puxam-nos pelas mangas. E espetam-nos os dedos no cotovelo. E nós, sem lhes podermos oferecer uma lamparina que parece mal, ainda lhes arremelgamos os olhos, pomos a mão no bocal e sussurramos um Não! enraivecido, mas eles não desistem, sabem que estão em vantagem. Mal nos viramos para o bocal , Ai sim? Tu não me digas que ela fez isso, a cabra!, e lá estão eles outras vez, com um Mãeeee! agora mais alto, e as carinhas de súplica coladas ao nosso nariz ou aos nossos ouvidos, enquanto a amiga do lado de lá descreve as acrobacias eróticas que pratica com o namorado novo - o que faz com uma minúcia que visa apenas alimentar o propósito da nossa inveja de esposas em estado de conserva, claro. Ao fim de alguns (longos) segundos do mais puro, indecente e descarado assédio filial, e da mais pura e contida raiva maternal, todas cedemos: todas! E quando desligamos, constatamos sem surpresa que o estafermo já se empanturrou com três bollycaos e as gomas todas do Natal, já bebeu duas coca-colas, passou seis níveis na playstation, mamou três episódios de Wrestling na SIC Radical, transformou a sala em ringue de batalha, and so on and so on and so on. E nós nada dizemos, culpadas por não lhes termos dado a devida atenção nas últimas duas horas (sacanas).
* Post dedicado a uma querida amiga que me compreende especialmente, pois quando falamos ao telefone uma com a outra somos sempre violentamente atacadas pelos respectivos rebentos-monstro e nunca conseguimos acabar decentemente uma conversa.