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Controversa Maresia

um blogue de Sofia Vieira

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o estranho caso das gajas giras & associados

por Vieira do Mar, em 19.12.13

Anda por aí a circular um "anúncio" que se tornou viral, pelas piores razão, relativo à promoção de uma sociedade de advogadas (o link está aqui http://mrmattos.pt/).

Desde sempre que a beleza desacredita a inteligência das pessoas e que, nos dias de hoje,  um discurso aparentemente "ligeiro" e "descontraído" sobre um assunto tão melindroso como a "Justiça", as indigna. A Justiça é um dos carrascos dos portugueses, um cancro, pelo que não pode nem deve ser vendida como um produto ou uma mera prestação de serviços, muito menos se com recurso ao sex appeal, como se fosse um shampô da herbal essences. Pois eu digo que pode, e que acho até saudável, espanejar o bafio misógino e machista que empregna as nossas instituições judiciais.  Porque estamos a falar de advogadas que, enquanto tal, VENDEM os seus serviços de advogadas, e que por isso têm o direito de se poder anunciar como qualquer outra profissão privada, baseada na oferta e na procura. Para as mentes portuguesas isto foi muito confuso: algumas chegaram a afirmar "assim se vê como está o Estado na Justiça neste país", como se o cu tivesse a ver com as calças. Não faço a mínima se as senhoras são ou não eficazes na recuperação de créditos. Talvez  devessem ter mostrado o seu dia enfiadas numa toga preta, de óculos de fundo de copo de três, cansadas depois horas entre calhamaços, a entrarem no único carro da empresa onde fazem vaquinha, ou no autocarro. Tudo igualmente encenado, claro, ou não fora este um pequeno filme de promoção das suas competências. Teria sido um teatrinho melhor, não? A eventual empatia que despertaria no cidadão a imagem desmazelada do trabalho duro, suado e mal pago, já seria menos escandalosa? Ou talvez devessem ter deixado de lado as tecnologias e ter-se posto a entregar cartões de visita da firma pelas ruas aos passantes, como se oferecessem um coma-tudo-o-que puder por sete euros, tipo promoção do indiano da esquina. Também poderíamos sempre voltar à idade da pedra e as senhoras ficarem sentadinhas na caverna à espera que alguém as "recomendasse", epá ouvi dizer estas gajas, apesar de lhes sairem pêlos pelos ouvidos,  são mesmo boas a recuperar crédito da tribo dos neandertais; talvez nós, homo sapiens, devêssemos experimentar a ver se recuperamos aqueles bisontes. Claro que o primeiro cliente, eventualmente satisfeito, seria sempre um acaso. Para cúmulo, a OA, essa instituição maluca e progressiva, sempre  atenta ao air du temps, instaurou-lhes um inquérito (?!).  Eu percebo, a pressão moral e social pesa mais do que uma baleia azul, mas aposto que até lhes deu gosto: olha as flauzinas a denegrir uma profissão tão nobre, íntegra e excelsa, pacta sunt servanda etc. e tal. É que, nos tempos que correm, a uma mulher não convém ter pinta, boas pernas, roupa gira e, audácia!, ter miolos (pelo menos tiraram o curso de Direito, demos-lhes o benefício da dúvida: eu sei, sei, que de nada valem cinco anos de encornanço e workout cerebral, em especial para quem não tem nem um). Aposto que, se fosse um filme sobre advogados, sentados opulentamente nas suas cadeiras anatómicas, a dominar a suas enormes secretárias, as pilocas rosadinhas sufocadas pelos estômagos proeminentes das almoçaradas onde decidem os destinos da nação, enfornados em resmas de papelada baça, disfarçando o leve sotaque provinciano, o brandy velho escondido na biblioteca de pau santo a abarrotar de lombadas douradas, tomos I a XXXVI,  emanando poder por todos os poros (que, diga-se, pode ser um afrodisíaco maior que uma camisola justa), não teria havido sururu. Mas gajas giras e com cenas à mostra, são outros quinhentos. A crise empobrece-nos a carteira e o espírito, que já de si nunca foram muito largos; se calhar  temos o chip da ditadura ainda instalado, pobrezinhos mas honrados e nada de dar nas vistas,  muito menos se se for mulher, as coisas devem ser como sempre foram,  seguir em frente dá medo. E, para mais, somos um país de gente feiota que se arranja mal, invejosa e um bocadinho mesquinha. Desde a Elvira, a  funcionária judicial que se confunde com a secretária de fórmica onde dormita e que esquece os dramas do Citius (googlem) no Facebook, até à nossa primeira dama, que bem poderia ser a Elvira. Que É a Elvira. Olhem, eu, pelo que vi, até era capaz de as contratar, se precisasse de recuperar os meus créditos (que não tenho, só débitos). Confio à partida numa mulher que sabe escolher um bom cabeleireiro e que se equilibra  decentemente de saltos altos numa calçada, enquanto apregoa as suas qualidades profissionais em dirty talk mode. Ser sexy atrai, por vezes vende, pode ser eficaz e não mata - juro, não mata! - neurónios. Garanto-vos eu, que sempre fui esperta.

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