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Controversa Maresia

um blogue de Sofia Vieira

Controversa Maresia

um blogue de Sofia Vieira

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por Vieira do Mar, em 30.01.11

sofiionce veruilhonaya

por Vieira do Mar, em 29.01.11

Como sempre, chego atrasada aos temas candentes e quando já toda a gente disse o que havia para dizer. Bom, adiante. Fui finalmente ver o filme sobre o Facebook (taylormade para os óscares, já agora) e saí da sala a detestar um bocadinho a coisa, a génese que esteve na base daquilo e a cretinice natural do fundador hoje bilionário. Já em casa e fui a correr ver a ficha técnica do FB, os terms of agreement e tudo o mais que nunca me havia ocorrido ler. Constatei por exemplo algo que já sabia: que não podemos apagar permanentemente a nossa conta, mesmo que o queiramos; que eles ficam lá com tudo: posts, fotografias, informação particular. Que temos que apagar as coisas uma a uma e que, mesmo assim, nada nos garante que o sejam com permanência. Imaginei-me com a trabalheira de ter de apagar individualmente as dezenas de fotografias que tenho por lá e todas as parvoíces que debitei ao longo dos últimos dois anos, todas as aplicações e jogos estúpidos que tive de bloquear, e apeteceu-me fazê-lo, mesmo. Mas, como sempre nestas coisas da NET  quando desatamos a pensar em carregar no delete, aparece qualquer coisa de última hora que redime todas as intrusões de privacidade por parte de terceiros e todos os nossos excessos exibicionistas, e nos faz ficar por aqui ou por lá, a partilhar alegremente com o mundo coisas que, em bom rigor, deviam ser só nossas e dos que nos são próximos. No meu caso, foi a aplicação mais divertida que me apareceu à frente nos últimos anos: lyoncifica o teu nome. Toda a gente que tem FB sabe o que isto significa; os outros, se não andam a dormir, adivinham o que seja ou já viram/ouviram nos media. A Luciana Abreu (a ex-Floribela que tinha sexo com árvores) e o futebolista Djaló tiveram uma bebé, e devem estar muito chateados com o facto porque lhe puseram o nome de Lyonce Viiktórya. Não existe qualquer explicação humanamente possível para os is a dobrar, os kapas, os ipsilones... enfim,  para os dois nomes na sua globalidade. Portugal estremeceu de pasmo e horror e, das Matildes de Massamá às Vanessas da Reboleira, passando pelas Eugénias Marias da Lapa às Marilúcias de Bragança, os queixos caíram. Pouco depois, alguém que deveria estar a trabalhar e a contribuir para o PIB deste nosso país (e que afinal até estava, mas na altura ainda não o sabia), teve uma ideia genial: criou uma página no FB cujo fundo são uns nenucos pretos e brancos, com umas caixas onde pomos o nosso nome e apelido, carregamos num botão e... maravilha das maravilhas!, lyoncificamos o nosso nome. Os resultados, apesar do pendor mais para o leste ortodoxo do que para a áfrica muçulmana, são hilariantes. A coisa começou no FB, com cerca de 300 mil partilhas e hoje quase um milhão de pessoas já usaram a aplicação - que pelos vistos foi feita por dois criativos de uma agência de publicidade. Neste momento, já tem o patrocínio de uma cerveja, (o que  lhe retira um bocado a piada espontânea,  convenhamos), uma página na net, apareceu na rádio comercial (fizeram até uma música a propósito), na SIC e na RTP, e o próprio casal-maravilha, confrontado com a situação, sorriu sem sinais de rancor, desejos de vingança ou qualquer vontade de arrepiar caminho.  E, embora a lucy tenha dito que têm de estar cá para "a proteger", à criança (presume-se que das piadas ao nome e outros atentados terroristas), ficamos com a sensação de que se há alguém de quem a pobre precisa de ser protegida é do mau-gosto delirante dos pais,  difundido à escala planetária. Conclusão: cada vez gosto mais do Facebook.

maminhas, salomão e perfume de bebé

por Vieira do Mar, em 28.01.11

Esta noite (melhor, esta manhã, depois de uma insónia dolorosa), sonhei que tinha tido um bebé e que estava a dar-lhe de mamar, num festim abundante. O sentimento primário era de aflição pois, tal como na vida, estava divorciada e o pai (primeiro, o pai dos meus filhos, depois, e à medida que o sonho avançava, figuras masculinas indistintas que se sobrepunham para me exponenciar a aflição), queria partilhá-lo - uma coisa tipo guarda conjunta, já não sei bem. O pressuposto salomónico provocava-me um desespero danado e eu, no meu absurdo onírico, só pensava em como o pai o iria alimentar quando o tivesse, se eu lhe estava a dar de mamar. Acordei num choro interior convulsivo e gutural, sem lágrimas, afogada em soluços secos e fiquei a olhar para o tecto, a racionalizar e a pensar que não deveria ser alheio ao sonho o facto de ter tido uma amiga que teve um bebé há poucos dias e de, ao pegá-lo, ter revivido por todos os meus poros aquele cheiro que só os recém-nascidos têm. Isso, e a ideia de partilha, um conceito nobre que ultimamente me preenche a vida e que adquiriu, pela força das coisas, uma conotação pejorativa de corte, separação, ganância e metades desavindas. Tudo é muito bonito até deixar de o ser. Levantei-me, lavei a cara, deitei-me e adormeci de cansaço, voltando a pegar no sonho exactamente onde o havia deixado, o que muitas vezes me acontece. Imagens de maminhas leitosas, beijinhos e abraços possessivos, a par com sensações de medo e de perda, que ninguém me o tira que eu não deixo. Que bebé tão meu, aquele! Não sei se era menino ou menina nem como se chamava, sei que era meu, um prolongamento de mim: era eu. Levantei-me, fui à minha vida mas passei o dia a pensar nele e no cheiro vivo que dele emanara: uma mescla do cheiro de todos os bebés que já tivera nos braços, com o dos meus filhos depois do banho, misturado com o da eau de toilette Mustela, do lait da Tartine et Chocolat ou com o da velhinha Johnson´s Baby (o melhor). E o cheiro perseguiu-me: pelas ruas de Lisboa, no escritório, pelas lojas onde entrei. Hoje quis imperiosamente um bebé só meu. E, mais do que os últimos estertores do relógio biológico que adianta e atrasa no meu subconsciente, o que se passa é o custar-me vê-los crescer calcorreando o longo caminho que nos separa a mim e ao pai, andando por vezes para cá e para lá em terra de ninguém, sem serem verdadeiramente dele, nem meus.

you eat potato and i eat potato *

por Vieira do Mar, em 20.01.11

 

As pessoas não mudam. Esqueçam: não mudam. Nem por amor, nem por dinheiro, nem mesmo por outra imaterialidade ou materialidade qualquer: não. Podem largar a pele, encarnar noutras, metamorfosearem-se, temporária, provisoriamente, só por um bocadinho, às vezes vidas inteiras, mas não mudam. A natureza está nelas a ferro e fogo,  como se nascessem com a fé ou com a falta dela. Normalmente, é o amor que as demanda: o outro exige-lhes nada menos do que a perfeição; idealizarem-se parceiros durante meses e anos tem depois destas coisas: só queremos do bom e do melhor. Além de acharmos que a tanto temos direito, o que é totalmente verdade. Tornamo-nos tirânicos, comportamo-nos como novos-ricos com o nosso amor, fazemos-lhe exigências absurdas, assim tipo mandar o empregado do restaurante equilibrar a flute do champanhe na ponta do nariz. E depois, somos contraditórios, tal a nossa arrogância de amadores: queremos as coisas à nossa maneira, independentemente da vontade do outro, embora lhe perguntemos se está bem assim, numa aparência de democraticidade que comove. Só para que o outro, seguindo as regras do jogo senão lixa-se,  diga que sim, que está muito bem. Mas também não pode ser um assentimento a roçar o submisso, o imediato submisso, que assim perdemos o respeito e o outro lixa-se à mesma. A coisa tem de ser de tal forma hábil que pareça que aquelas duas vontades se encontram por acaso no firmamento e puf!, delas saíu uma determinação comum inabalável. Já a oposição frontal e desafiadora pode ser fatal, daí que o não querer o mesmo que o outro quer tem que ser uma ideia largada devagar, como um lais de guia suavemente a desfazer-se enquanto o barco aquece o motor e se afasta no silêncio das águas escuras. Primeiro, lançar a dúvida razoável, antes de contra-argumentar; ver a hesitação fermentar no outro, apanhar o flanco desguardado e acrescentar mais um ou outro senão, fazendo-o sempre crer que a dúvida brotou expontaneamente da sua argúcia e raciocínio e não que lhe foi subtilmente incutida. Assim se vão mantendo os equílibrios do mundo, os do amor e os outros. Com base na mentira, no compromisso, no jeitinho, no carrega ali e empurra aqui, no aguenta além. Isto é assim porque as pessoas são todas diferentes umas das outras, logo querem coisas diferentes: para si e dos que as rodeiam. E não mudam. Mas como se querem e se precisam e se amam e  ficam doidas se umas sem as outras, querem moldar-lhes os contornos às suas próprias curvas,  brincar aos deuses, portanto. A harmonia, sobrevalorizada, é sempre uma elevação momentânea que prolongamos artificialmente em nome das harmonias posteriores, das mais-valias que contamos vir a obter. Existem apenas flashes de entendimento total, como se por segundos abarcássemos o outro todo. Mas noventa e nove por cento do tempo andamos aos papéis, a fazer força para que os outros nos agradem e os outros, que nos sintamos agradados, tentando não nos arrependermos da escolha que fizémos, a atrofiar os sonhos. Mas o mais extrordinário disto tudo é que, com toda a inteligência que nos foi dada mais o instinto de auto-preservação com que fomos dotados (esse de nos enfiarmos em conchas para não sofrer, de nos armarmos até aos dentes ao primeiro sinal do armagedão emocional, de chamarmos à colacção todas as más experiências de vida) voltamos sempre a cair no mesmo: uma e outra vez, a tentarmos mudar quem queremos que encaixe assim ou assado nas nossas vidas, empurrando-o até passar pelo buraco da agulha da nossa aprovação. Quando bastaria olharmo-nos e  vermos em nós o maior exemplo de que não mudámos, nem por nada nem por ninguém. Apenas fingimos por uns tempos. É por isso que sacar  um juramento com o fito de inibições futuras, ou seja, à base de condições de facere e de non facere, é o acto menos humano e mais violento que podemos impor ao outro.

 

* let´s call the all thing off (faz de conta que, no vídeo, Fred Astaire dança no gelo com Ginger Rogers. maravilha)

Um Bom 2011

por Vieira do Mar, em 01.01.11

                                                                                                               Sofia Vieira ©

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