hoje
é o primeiro dia do resto da minha vida.
(até já)
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é o primeiro dia do resto da minha vida.
(até já)
Hoje tive um choque: ia à tarde no carro a ouvir a Comercial e de repente, sem qualquer aviso prévio, apanho com uma versão de Gaivota, cantada (?!) pelos inenarráveis The Gift (ou só pela inenarrável vocalista dos The Gift, não percebi bem). Fiquei horrorizada, a precisar de vir rapidamente para casa ouvir Amália, imbuir-me de Amália, comer Amália como Adriana comia Caetano, e encher-me até à medula dessa canção que é a prova maior de que Deus afinal existe e que um dia resolveu dar um ar da sua graça usando O´Neill, Amália e Oulman como Seus instrumentos. Choro que me farto a cada vez que me banho nisto, mas olhar de frente o Divino não é fácil para ninguém. Minha querida, não confirmei, mas imagino que fosse a isto que te referias aqui.
De noite tudo muda. Enquanto se esbatem os contornos de algumas coisas, cá dentro outras tomam forma, como se me tivesses feito um filho ou eu engolido qualquer coisa viva. É por esta altura que as dores incidem mais sobre a zona do esterno e que dou atenção redobrada ao que não presta, como a um filme qualquer de baixo orçamento ou àquilo que me disseste e de que eu não gostei. Por um mistério qualquer da física, o ar rarefaz-se e tudo em mim exala devagar. O meu corpo confunde-me, como se o umbigo na boca. Na noite cabem sempre muitos dias, pois nela as lembranças atropelam-se, são gente com pressa de chegar a casa, bichos rasteiros que se esgueiram pelos buracos da mente enquanto convoco inutilmente o sono. Tenho os poros abertos de medo e entrego-me à melancolia como o fazia contigo: sem outra solução à vista. Não há como deitar fora o excedente, é esperar que chegue o dia e com ele a medida certa dos actos e das palavras, a par com a devida contrição. Mas por agora, se fechar as luzes, pode ser que chegues mais depressa.
...elas explicam.
... e apetece-me ver porcarias na tevê, apesar de tristemente reduzida aos quatro canais nacionais. Neste preciso momento estou em choque, com a Bárbara Guimarães a apresentar um programa em que as pessoas não sabem cantar, mas cantam mesmo assim e ninguém se importa. Não tenho nada contra a Bárbara, embora a ache com péssimo gosto para maridos. Também me parece um bocado acabadota e demasiado produzida, mas isso acontece em geral com as mulheres que casam com homens mais velhos. O pior é que não tem qualquer sentido rítmico, canta mal que se farta e é ridícula a menear-se (mexer bem as ancas, minhas amigas, aprendam: não é para qualquer uma) , o que é um bocadinho trágico quando se trata de apresentar um concurso musical (?!). Entretanto, os meus filhos avisam-me que vou ter de levar com os recordes do Guiness, a seguir. Ainda por cima, chove.
... ah pois estou. Já pensaram bem na maravilha que é andarmos todos por aqui e dizermos aquilo que nos apetece? A propósito: o povo, os autarcas e os ilustres de Santa Comba Dão merecem-se uns aos outros. Na televisão, vejo uma pequena multidão, grunha, inculta e envelhecida, que acha bem que a praça se chame "Dr. Oliveira Salazar", toda contente com os comes e bebes de graça. Acho a cena deprimente. Que cada terra seja livre para chamar às suas praças o que bem entender e que não aceite as críticas que lhe possam ser feitas quanto ao gosto, no mínimo duvidoso, da sua escolha, parece-me uma evidência salutar. Mas chateia-me que não se lembrem que, se o filho da terra ainda governasse, ninguém teria essa liberdade. Dar o nome de alguém a um lugar significa um tributo a esse alguém. Prestar homenagem a Salazar, para mais no dia 25 de Abril, é tão estúpido que nem chega a ser provocatório. Mas enfim, é também para isto que se fez a revolução: para autarcas labregos darem a uma praça o nome de um ditador que fez definhar o país durante décadas, só porque lhes apetece, e para os naturais acenarem em concordância enquanto, com as bocas sorridentes e desdentadas, abifam mais uma febra e engolem a décima mine.
O melhor remédio para uma noite de insónia, temperada com uma tristeza persistente e um ensimesmanço apaspalhado: Burn after reading.
Não há nada mais ridículo nesta vida do que o paroxismo derivado das relações que nunca chegaram a existir. Miss Alen, n´O Regabofe.
Definitivamente, tenho uma sopeira dentro de mim que gosta de apanhar e que não se importava de dar umas voltas com o Simon Cowell.
O veterinário quer estar bem com deus e o diabo, tadinho, e não dá uma para a caixa. Nestas coisas não pode haver meio termo, cabe-lhe provar por A + B que, em termos médicos, puramente fisiológicos, o touro sofre quando lhe ferram bandarilhas na carne. Parece-me relativamente fácil. O Palha no cérebro continua a dizer que o touro não sofre, senão, não dava a cara à luta. De repente, profere uma misteriosa afirmação, diz que é melhor a tourada do que a desgraça que se está a passar nas cidades. Felizmente, Guedes de Carvalho não o deixa aprofundar a teoria e segue para bingo. O palhaço Cardinalli diz que no circo os animais não sofrem e está a um passo de recorrer à agressão física, de cabeça perdida com a calma zen do vegan. Mais um bocadinho e demonstra ao vivo e em directo, na pessoa do representante da Liga, como se amestra a bicharia...