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Controversa Maresia

um blogue de Sofia Vieira

Controversa Maresia

um blogue de Sofia Vieira

beatriz

por Vieira do Mar, em 30.05.08

 

Tinha a cabeça em bico e era quase feia, o cabelo preto e luzidio colado à testa pequena, a pele manchada de vermelho e encarquilhada,  como a de uma velhinha encalorada. Enquanto eu dilatava , ela nascia, eu dilatava, ela nascia, e eu só pensava na música que Chico cantara na noite anterior no pavilhão dos desportos, vai passar nessa avenida um samba popular… Eu a avenida, ela  a sambar por mim afora. Foi ele, definitivamente,  o culpado de ela ter vindo quinze dias mais cedo, sem aviso, naquela madrugada de domingo numa Lisboa muito quente e às moscas, num hospital quase vazio. É no que dá, pular nas bancadas com uma barriga de nove meses nas mãos. Se fosse rapaz, só poderia ter-se chamado Francisco, para depois ser Chico. Bom, mas  passava ela nessa avenida que era eu, os leões ao lado a rugirem que nem doidos (só neste país,  um zoológico ao lado de um hospital), e eu a delirar de dor e  a querer saltar pela janela porque eles tinham de ser libertados, coitados dos leões, não é justo, e a minha tia enfermeira a tentar manter-me deitada, faz a respiração que aprendeste nas aulas, vá. Eu fiz, a manhã chegou muitos séculos depois, os corredores foram-se enchendo de gente ensonada, a cabeça em bico já de fora mal chegava à sala de partos. Dois dias depois e nós em casa, eu uma miúda, sem perceber nada de amores demasiados, com medo das mortes súbitas, das hipoglicémias  e das hérnias umbilicais. Tudo muito delicado, pequenino, estranho, sensível, e até um bocadinho nojento. Nada de grandes paixões; antes,  uma responsabilidade avassaladora, que me nauseava quando me apanhava desprevenida, nos intervalos entre sonos, banhos e mamadas, quando parava para pensar. Havia alturas em que não queria aquilo, em que queria voltar ao tempo de antes de ser mãe: livre, só a tomar conta de mim e a dormir dez horas por dia, era tão bom. Momentos da mais pura alegria, de um êxtase contemplativo quase físico, eram de repente substituídos por uma vontade de, sei lá, morrer (podia ser?), da qual nunca falei a ninguém, envergonhada, sem saber que nome lhe dar. Era muito, muito, nova, apercebo-me agora. Havia  coisas às quais não sabia ainda dar nomes, só mais tarde. Felizmente o amor foi vindo, poderoso e incondicional, e substituiu devagarinho o medo de fazer mal, bem como o pânico de que ela me desaparecesse de repente dos braços. O amor enche-nos de confiança e de força, é uma espécie de fé - e isso ajuda muito. Fiz disparates, continuo a fazê-los;  e adivinho-lhe facilmente as falhas, as faltas e as aldrabices: basta pôr-me no lugar dela e subtrair-me vinte anos – o que não torna as coisas necessariamente mais fáceis. O facto de ela me estar a sair uma miúda bestial , muito melhor do que eu, é para mim um agradável mistério que não tenho, por enquanto,  especial interesse em desvendar.

...

por Vieira do Mar, em 30.05.08

 

 

 

Há quinze anos atrás nasceu uma miúda de cabeça em bico que mudou a minha vida. Não sei se se nota, mas hoje estou muito feliz.

quando os homens são louras burras

por Vieira do Mar, em 29.05.08

"Parece que uns tipos do norte resolveram presentear as mulheres da terra com um mimo: lugares de estacionamento maiores do que o habitual e pintados de cor-de-rosa. Há quem lhe chame discriminação positiva, eu chamo-lhe machismo bacoco.(...)"

 

 

Porque hoje é quinta-feira.

 

o simão e a filipa

por Vieira do Mar, em 27.05.08

 

Vê-se que o simão é o macho da casa. A filipa  fica o tempo da entrevista numa posição subalterna,  sentada de lado, prestes a servir  e  virada para ele, parecendo beber-lhe as pérolas de sabedoria, a cabeleira loura num ligeiríssimo assentimento.  Nota-se o esforço que faz para mostrar ao simão que concorda com ele em tudo, tudo.  Fala pouco, a filipa, e é obviamente insegura. Quando o faz, é quase logo interrompida pelo simão, que a corrige. Ainda ensaia um pequeno defeito, que lhe aponta a medo, e faz uma ou outra sugestão, mas ele não a deixa acabar,  ela percebe lá disso. A  filipa encolhe-se e baixa a cabeça, mas ainda consegue dizer para as câmaras que, para o filho mais pequeno, a distância não existe: quando precisa de qualquer coisa do pai vai ter com este a madrid. Felizmente para ele, apanhar um avião é como apanhar um táxi. Algo me diz que a filipa,  muito preocupada com a impressão que causa no seu precioso marido,  não se preocupa nada  com o aumento dos combustíveis nem com o previsível colapso da economia mundial. Baixa a cabeça, filipa.

MFL para totós II

por Vieira do Mar, em 27.05.08

No Câmara Corporativa.

só para lhe agradecer

por Vieira do Mar, em 27.05.08

... um dos filmes mais bonitos de sempre.

 

 

 


 

 

 

"- You've ruined it for me, you know.
- Ruined what?
- Being alone."

 

(...)

 

a gaja da ucrânia

por Vieira do Mar, em 27.05.08

Do Festival Eurovisão da Canção, uma pimpineira essencialmente de leste que deu sábado passado na RTP, e que calhou a ver num restaurante em Aveiro, retenho um momento de antologia: o empregado, em amena cavaqueira com o meu filho de oito anos, às tantas vira-se para este e diz-lhe “Bom, agora tenho de ir servir, mas quando aparecer a gaja da Ucrânia tu chamas-me, ouvistes?” (só percebe a maravilha disto quem também viu a gaja da Ucrânia, claro).

MFL para totós

por Vieira do Mar, em 27.05.08

 

Esta mulher é um perigo!,  a ler no Cabra de Serviço.

os anúncios radiofónicos

por Vieira do Mar, em 26.05.08

aos produtos laxantes são um primor de subtileza e bom gosto.

vertente confrangedora

por Vieira do Mar, em 26.05.08

Afinal, confirma-se: o programa de humor Os Contemporâneos está  de facto muito perto da indigência, mas na vertente confrangedora,  em especial quando Bruno Nogueira desata a imitar,  em desespero de causa,  os modos e as vozes de Ricardo Araújo Pereira. Não vale a pena, sem os Gato, este país fica orfão de riso.

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