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Controversa Maresia

um blogue de Sofia Vieira

Controversa Maresia

um blogue de Sofia Vieira

...

por Vieira do Mar, em 30.04.07
Socorro!, tenho uma adolescente em casa!

(... ou duas... ou dez....)



Eu sou uma daquelas mães pseudo espertalhonas que pensa que, se alguma coisa tem de lhes acontecer, ao menos que seja debaixo do meu tecto e sob as minhas asinhas tão protectoras que mais parecem as asas de um boeing. Vai daí, quase tudo lhes é permitido: todos os amigos são bem vindos e admito, com alguma assiduidade, festas, pijama parties, sessões nocturnas de filmes de terror, trabalhos de grupo (mesmo os trabalhos manuais, com tintas e colas...) e raves no Messenger e no HI5 até às tantas– desde que tudo cá em casa (e comigo na sala ao lado). À conta disto (e dos índices de popularidade da minha filha, uma verdadeira pop star no micro universo escolar), tenho sempre a casa cheia de galinhas aos gritinhos e de mânfios silenciosos em plena adolescência. São todos iguais. Eles, de cabelo a tapar-lhes a cara, estilo barcarola, de olhos postos no chão e ar falsamente tímido, a darem-me dois respeitosos beijinhos como quem não parte um prato. Elas, giríssimas, de umbigos à mostra, cabelos compridos e dentes perfeitos. Perigosíssimas. Há dias em que a minha casa se enche de "tiaaaaaaaa", "ó tiaaaaaaaa", de hahaha, hohoho e de hihihi, e é vê-las passear entre o quarto e a casa de banho, de soutiã, a trocarem tops (camisolas sem alças), a pintarem-se as unhas e a lavarem o cabelo (estão sempre a lavar o cabelo!). O de dez anos, de olhos em bico, a achar que lhe saiu a sorte grande… E o que elas riem, senhores! Pode dizer-se que não sabem fazer outra coisa e que, se estudassem como riem, seria uma maravilha. Agora, tive cá uma emprestada uma semana inteira e garanto-vos que elas não pararam de rir por um segundo que fosse. E a lembrarem-me de que os 14 anos são isto mesmo: gozar, gozar, gozar - com os velhinhos e deficientes nos autocarros, com os professores, com o resto da família, umas com as outras e, especialmente, com os rapazes. São impressionantes, os níveis de inteligência emocional e de sagacidade (para não dizer de crueldade) das raparigas desta idade. Nada lhes escapa, disparam em todas as direcções, acertam invariavelmente na mouche e não fazem nenhuma espécie de cerimónia com o resto do mundo. É claro que, se me der para aprofundar, na maior parte das vezes, a diversão é mais delas do que minha.
Um dia destes, por exemplo, entro no templo feminino que é o quarto da minha filha e vejo uma espécie de soutiã de silicone pendurado. Mas que raio é isto??? Tiaaaaaaa, diz-me a M., é o soutien que comprei na loja chinesa (o prolongamento do "A" não é afectação, é mais a verbalização de um desejo de intimidade). A tiaaa já viu, não tenho mamas nenhumas, sou uma tábua, é uma tristeza. Eu queria era ser assim, como a tiaaa ou a Bia, com uma coisa que se visse. Então, comprei este soutiã de silicone nos chineses, cinco euros, depois, por cima, ponho dois daqueles soutiãs com almofada e só depois é que ponho o top. E fica assim (e mostra-me foto no HI5, sem vergonha nenhuma, elas todas de decote, abraçadas umas às outras, as maminhas e os risos equiparados. E eu, a olhar para aquele horrível acessório de borracha, sem saber o que dizer. Finalmente, saiu-me qualquer coisa parva como, Oh M., mas tu tem cuidado, querida, que essa borracha tem ar de se desfazer e, com o calor do teu corpo, pode ficar colada à tua pele. Elas riem-se e disfarçam o que pensam de mim porque, enfim, imagino que seja porque lhes dou de comer e lhes pago as pizzas que passam a vida a encomendar... Catorze anos, e já mestras na arte da dissimulação sexual despudorada. Ai a minha vida.


Cenas do próximo capítulo (sim, sei que vos deixei curiosos): o HI5, esse espelho interplanetário de egos adolescentes, onde muitos adultos, tristemente, também fazem uma perninha.

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por Vieira do Mar, em 30.04.07
Este é o Cristiano Ronaldo que não acabou os estudos:

(A Maria Gambina que não acabou os estudos? Mas… Mas... A que acabou também não me parece lá grande espingarda, quer dizer, a rapariga não tem muito cara de pós-graduações nem de mestrados, pois não?, limita-se a desenhar uns trapos. Os estudos foram assim tão importantes para ela? E o mesmo se diga do Abrunhosa. O que acabou os estudos para ser o quê? Doutor? Uma grande estrela do show bizz luso? Temos que acabar os estudos para ficarmos como ele? A não saber cantar? Temos que acabar os estudos para ficarmos como a Gambina? Que é o quê? Uma designer de renome internacional? Ou como a Judite de Sousa? Essa grande pivot da CNN? Essa Oprah portuguesa? É que por favor… às vezes, juro, o novo riquismo parece-me uma coisa tãaaao boa. Em especial, quando se opõe ao velho miserabilismo, que, neste caso, nos chega sob a forma de um - mau - anúncio televisivo.)


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por Vieira do Mar, em 30.04.07
Este é o Cristiano Ronaldo que não acabou os estudos:

(A Maria Gambina que não acabou os estudos? Mas… Mas... A que acabou também não me parece lá grande espingarda, quer dizer, a rapariga não tem muito cara de pós-graduações nem de mestrados, pois não?, limita-se a desenhar uns trapos. Os estudos foram assim tão importantes para ela? E o mesmo se diga do Abrunhosa. O que acabou os estudos para ser o quê? Doutor? Uma grande estrela do show bizz luso? Temos que acabar os estudos para ficarmos como ele? A não saber cantar? Temos que acabar os estudos para ficarmos como a Gambina? Que é o quê? Uma designer de renome internacional? Ou como a Judite de Sousa? Essa grande pivot da CNN? Essa Oprah portuguesa? É que por favor… às vezes, juro, o novo riquismo parece-me uma coisa tãaaao boa. Em especial, quando se opõe ao velho miserabilismo, que, neste caso, nos chega sob a forma de um - mau - anúncio televisivo.)


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por Vieira do Mar, em 26.04.07
Este é um momento histórico. O primeiro youtube no meu blogue só podia ser do ultra fantástico, maravilhoso, genial, Ricky Gervais. Brilliant, mesmo. Obrigada, !

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por Vieira do Mar, em 26.04.07
Este é um momento histórico. O primeiro youtube no meu blogue só podia ser do ultra fantástico, maravilhoso, genial, Ricky Gervais. Brilliant, mesmo. Obrigada, !

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por Vieira do Mar, em 25.04.07

Quando a figura de Salazar
ganhou aquele concurso idiota na RTP, eu até me ri, com os coros indignados que então se levantaram: que Portugal isto e que aquilo, que os portugueses, órfãos, resignados à sua sorte, só tinham o que mereciam, e que ah! e que oh!. Sempre me pareceu que meia dúzia de mecos da extrema-direita, da direita, ou nem tanto (apenas gente com um estranho sentido de humor), tinham desatado a votar à estúpida só para chatear a esquerda e baralhar as cartas do politicamente correcto. Afinal, bastava telefonar. Grande palhaçada, portanto, para gaúdio de uns poucos, uma vez que a esquerda (e todos os anti-salazaristas em geral), feitos parvos, morderam o isco e correram a mostrar-se chocados e horrorizados com uma votaçãozeca meio aldrabada num programa medíocre de televisão, que metia no mesmo saco figuras totalmente díspares, sem qualquer nexo ou fio condutor.
Nas nossas escolhas (quaisquer que elas sejam) tem de haver um nexo entre as opções que fazemos e o que é preterido. Num concurso, esse nexo entre os vários participantes tem de ser unívoco: várias pessoas passam por uma mesma prova, de idêntica natureza, e que ganhe o melhor (ou o pior, consoante o tipo de concurso). Ora, nesta excrescência televisiva, não havia nada disso; os talentos eram vários e apontavam em direcções diversas, numa lógica obstrusa: visionários, poetas, ditadores, ditadores wannabe (Cunhal, por exo.), reis, gente simplesmente boa (Aristides de Sousa Mendes) e políticos tout court (o Marquês), tudo no mesmo saco. Pouco ou nada em comum, portanto. Nenhum critério uniformizador que os colocasse na mesma linha de partida; apenas um molho de gente que, de uma forma ou de outra, terá influenciado os diversos rumos de Portugal, por assim dizer.
Ora, se formos pelo critério da "influência", ou seja, de como uma só pessoa pode conduzir um país numa ou noutra direcção, talvez Salazar tenha sido, de facto um grande português: durante décadas, manteve o país mergulhado no obscurantismo (cultural, político e social) e nas sopas de cavalo cansado, deixando o país perder de vez (porque já desde mil oitocentos que o vinha a perder…) o comboio do desenvolvimento, que então se vivia no resto do mundo civilizado. Salazar trancou o país por dentro, negou-se à descolonização e lixou esta merda toda durante muito tempo. Ainda hoje nos ressentimos disso: no espírito provinciano e mesquinho que nos cumprimenta todos os dias a cada esquina, nos complexos de inferioridade, no saudosismo bacoco de quem só se queixa e não tenta fazer melhor, na herança da violência doméstica (a família, a família, tudo pela família…) e do alcoolismo quase endémico, e na falta de vontade e de coragem para a intervenção cívica, por exemplo.
Salazar, infelizmente, foi um português de monta, sim senhor, porque, em meados do século XX, quando os outros países já tinham televisão a cores e se começava a pensar em mandar o Homem à Lua, ele mandava gente para o Tarrafal e assava-os na frigideira, mandava miúdos para o mato matar pretos, assassinava os opositores políticos e mandava a pide entrar pelas casas dentro de cidadãos cumpridores e trabalhadores, confiscando-lhes Kafka e Mark Twain, enquanto pairavam, negras, as ameaças de detenção, os sustos de morte.
Salazar teve o grande mérito de estruturar o medo à escala nacional. Isso faz dele um dos grandes de Portugal. Uma grande bosta, mas grande. Porque o maior português pode sempre querer dizer o português que mais nos fodeu o juízo, ininterruptamente, durante mais anos, e que mais nos afastou das coisas boas e importantes que, entretanto, aconteciam no resto do mundo. Portanto, de certa maneira, vistas as coisas de um certo prisma, quem votou nele até tinha razão, mesmo sem a querer ter.
O que vale é que, como dizia eu hoje ao meu filho mais novo, "Um dia ele caiu de uma cadeira, ficou doente e morreu; depois veio um velho parecido, embora um bocadinho menos mau, até que os portugueses se fartaram de morrer na guerra, de não poder ler os livros que queriam e de ter de ir a Espanha beber Coca-cola, e mandaram uns soldados correr com aquela canalhada toda e, depois de algumas confusões em que todos queriam o poder, puseram as pessoas a votar e a escolher quem queriam que mandasse nelas, e a ler e a comprar o que lhes apetecesse. E a beber muita Coca-Cola."

E pronto. Por estas e por outras é que hoje corri meia Lisboa só para comprar um cravo vermelho e ando com ele ao peito - mesmo dentro de casa, até quando vou à casa de banho fazer xixi.

A propósito, ler este post da Tati, de que gostei muito.









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por Vieira do Mar, em 25.04.07

Quando a figura de Salazar
ganhou aquele concurso idiota na RTP, eu até me ri, com os coros indignados que então se levantaram: que Portugal isto e que aquilo, que os portugueses, órfãos, resignados à sua sorte, só tinham o que mereciam, e que ah! e que oh!. Sempre me pareceu que meia dúzia de mecos da extrema-direita, da direita, ou nem tanto (apenas gente com um estranho sentido de humor), tinham desatado a votar à estúpida só para chatear a esquerda e baralhar as cartas do politicamente correcto. Afinal, bastava telefonar. Grande palhaçada, portanto, para gaúdio de uns poucos, uma vez que a esquerda (e todos os anti-salazaristas em geral), feitos parvos, morderam o isco e correram a mostrar-se chocados e horrorizados com uma votaçãozeca meio aldrabada num programa medíocre de televisão, que metia no mesmo saco figuras totalmente díspares, sem qualquer nexo ou fio condutor.
Nas nossas escolhas (quaisquer que elas sejam) tem de haver um nexo entre as opções que fazemos e o que é preterido. Num concurso, esse nexo entre os vários participantes tem de ser unívoco: várias pessoas passam por uma mesma prova, de idêntica natureza, e que ganhe o melhor (ou o pior, consoante o tipo de concurso). Ora, nesta excrescência televisiva, não havia nada disso; os talentos eram vários e apontavam em direcções diversas, numa lógica obstrusa: visionários, poetas, ditadores, ditadores wannabe (Cunhal, por exo.), reis, gente simplesmente boa (Aristides de Sousa Mendes) e políticos tout court (o Marquês), tudo no mesmo saco. Pouco ou nada em comum, portanto. Nenhum critério uniformizador que os colocasse na mesma linha de partida; apenas um molho de gente que, de uma forma ou de outra, terá influenciado os diversos rumos de Portugal, por assim dizer.
Ora, se formos pelo critério da "influência", ou seja, de como uma só pessoa pode conduzir um país numa ou noutra direcção, talvez Salazar tenha sido, de facto um grande português: durante décadas, manteve o país mergulhado no obscurantismo (cultural, político e social) e nas sopas de cavalo cansado, deixando o país perder de vez (porque já desde mil oitocentos que o vinha a perder…) o comboio do desenvolvimento, que então se vivia no resto do mundo civilizado. Salazar trancou o país por dentro, negou-se à descolonização e lixou esta merda toda durante muito tempo. Ainda hoje nos ressentimos disso: no espírito provinciano e mesquinho que nos cumprimenta todos os dias a cada esquina, nos complexos de inferioridade, no saudosismo bacoco de quem só se queixa e não tenta fazer melhor, na herança da violência doméstica (a família, a família, tudo pela família…) e do alcoolismo quase endémico, e na falta de vontade e de coragem para a intervenção cívica, por exemplo.
Salazar, infelizmente, foi um português de monta, sim senhor, porque, em meados do século XX, quando os outros países já tinham televisão a cores e se começava a pensar em mandar o Homem à Lua, ele mandava gente para o Tarrafal e assava-os na frigideira, mandava miúdos para o mato matar pretos, assassinava os opositores políticos e mandava a pide entrar pelas casas dentro de cidadãos cumpridores e trabalhadores, confiscando-lhes Kafka e Mark Twain, enquanto pairavam, negras, as ameaças de detenção, os sustos de morte.
Salazar teve o grande mérito de estruturar o medo à escala nacional. Isso faz dele um dos grandes de Portugal. Uma grande bosta, mas grande. Porque o maior português pode sempre querer dizer o português que mais nos fodeu o juízo, ininterruptamente, durante mais anos, e que mais nos afastou das coisas boas e importantes que, entretanto, aconteciam no resto do mundo. Portanto, de certa maneira, vistas as coisas de um certo prisma, quem votou nele até tinha razão, mesmo sem a querer ter.
O que vale é que, como dizia eu hoje ao meu filho mais novo, "Um dia ele caiu de uma cadeira, ficou doente e morreu; depois veio um velho parecido, embora um bocadinho menos mau, até que os portugueses se fartaram de morrer na guerra, de não poder ler os livros que queriam e de ter de ir a Espanha beber Coca-cola, e mandaram uns soldados correr com aquela canalhada toda e, depois de algumas confusões em que todos queriam o poder, puseram as pessoas a votar e a escolher quem queriam que mandasse nelas, e a ler e a comprar o que lhes apetecesse. E a beber muita Coca-Cola."

E pronto. Por estas e por outras é que hoje corri meia Lisboa só para comprar um cravo vermelho e ando com ele ao peito - mesmo dentro de casa, até quando vou à casa de banho fazer xixi.

A propósito, ler este post da Tati, de que gostei muito.









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por Vieira do Mar, em 24.04.07

Temos que aperfeiçoar a coreografia do "Like a Virgin", meninas. Ah! Levamos as mini-saias à colégio interno? :)

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por Vieira do Mar, em 24.04.07

Temos que aperfeiçoar a coreografia do "Like a Virgin", meninas. Ah! Levamos as mini-saias à colégio interno? :)

...

por Vieira do Mar, em 22.04.07
Gosto muito da sujidade limpa do campo;
de mergulhar as mãos nuas na terra, de deparar com minhocas gordas e de as dar a comer aos sapos e aos peixes do lago. Eu, de cidade há gerações várias, não tenho nojo de minhocas gordas, nem de rãs, nem de cobras. A semana passada apanhámos uma cobra de água; passeou-se pelo meu braço como modelo numa passerelle e, depois, foi à sua vida. Um casal de corujas brancas nidifica todos os anos na chaminé da cozinha e, enquanto faço a sopa ou aqueço o leite, ouço os cicios das crias, assustadas com o barulho das panelas. Nas traseiras da casa existem restos de ratos mortos, de passarinhos recém-nascidos e pernas de coelho meio comidas. Quando não são as corujas, são os gatos; quando não os gatos, os cães. Embora os gatos durmam enroscados nos cães e sonhem os sonhos deles. Mergulho as mãos na terra e tenho sempre a sensação de que algo de muito primordial, de muito primevo, me rodeia as veias, os nervos, como se escutasse os rumores do princípio do mundo. Porque eu sou muito ervas daninhas e orégãos por entre as raízes das oliveiras; sou muito à solta, muito dente-de-leão, fruta trincada na árvore, maçã bichada. Sou pouco, ou quase nada, raíz envasada. Aqui, ninguém tem medo das abelhas que voam à nossa volta: todos sabem que andam ao pólen, é só o que lhes interessa. A relva, na verdade, há muito que morreu: agora é só grama e ervas altas, mas não faz mal: cortado, tudo, com aquela máquina em promoção no AKI, e nem se nota a diferença, parece um campo de futebol. Quando rego, faço-o descalça e metade da água vai para os meus pés, reparam as plantas, invejosas. Aqui, andamos todos descalços, à chuva, sujos e a cheirar a cavalo, embora não tenhamos cavalos. Dos meus filhos, cada um com o seu cheiro próprio. O mais velho cheira a cão, mas isso não é mistério nenhum, pois é num deles que se esfrega o dia todo; se pudessem, dormiam juntos, debaixo dos mesmos lençóis, e contavam-se segredos de namoradas pela noite dentro. O mais pequeno cheira sempre a lareira. Mesmo quando é Primavera, como agora, e a lareira já só fumega lembranças do Natal passado; o cabelo dele é de um fogo esmaecido que lembra pinhas ardidas e resina derretida. Que bem que lhes faz!, apanharem minhocas, enrolarem-se-lhes cobras de água nos tornozelos e agarrarem em gafanhotos verdes para, com eles, pregarem sustos de morte à mãe (pois que tem limites, esta enorme fatia campestre de mim). Tanto que precisam, de andar descalços e ganhar casco, de ajudar a colher o feijão e de comer da boca do cão. Eu cá não deixo (nem pensar!), não, nada de andar à chuva que se constipam, nem de beber da água do poço, muito cuidado com a cobra, que nunca se sabe e nada de comer onde, antes, mordeu o cão e lambeu o gato, porque os micróbios isto e assado. Mas, no fundo, o que faço é olhar para o lado e esperar que lhes bastem as vacinas, que ganhem defesas como soldados experientes e que cresçam fortes e com a natureza dentro deles. Esperar, portanto, que esta sujidade limpa lhes enxagúe os corpos e as almas e lhes dê alento para o regresso à cidade que os espreita, gulosa.

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