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Existe um sub-género masculino (insistentemente heterossexual) que me irrita sobremaneira: o desinteressado. O desinteressado mais não é do que um misógino envergonhado e uma criatura fraca de sexualidade insegura. Com uma libido nitidamente atrofiada e unresolved issues com a mamã, vira-se para a companhia e o elogio dos seus pares porque estes são a única alternativa possível às mulheres. Até ver, é um heterossexual, sim (também há os nelos, mas esse é outro sub-género a desenvolver em sede própria) mas daqueles que nasceu assim por acaso, num dia em que deus nosso senhor andava por ali, a fazer undolitá, indeciso e tal, a este dou-lhe ou não um par de maminhas só para matar este tédio?..., e esta? Ah, esta tem direito a uma pilinha-brinde... Olha!, àquele dou-lhe ppilinha mas ele não saberá o que fazer com ela, etc, etc... É, basicamente, um enjoadinho comprometido (namorado ou casado), que não se/a levanta nem à passagem da Carmen Electra e ignora qualquer gaja boa que se cruze com ele na rua, como se não existissem decotes vertiginosos, umbigos ao léu nem saias anormalmente curtas. Note-se que a questão não é, de todo, moral.Como desculpa para tamanho atrofio libidinoso, diz que uma mulher, para o interessar, tem de ter classe, ou uma outra abstracção parva do género. Ou seja, só lhe agrada se reunir um sem número de características, como: ser fiel, ter um QI de 150, pernas de dois metros, produzir um agradável mas subtil efeito decorativo, ser boa cozinheira, anfitriã, esposa e mãe. Como não conhece quem reuna todas estas condições, não gosta especialmente de nenhuma. É aquele idiota que diz, Ah! Mas a Jlo tem rabo a mais! ou A Cameron Diaz? Ná... tem maminhas a menos... ou ainda, Cá pra mim, a Bundschën tem o nariz grande... Normalmente, este tipo de homem não gosta de lidar nem de trabalhar com o sexo oposto, pois considera as mulheres seres astutos, conflituosos e imprevisíveis que, quando não estão à espera do período, estão com ele ou já estiveram (nojo!). Desconfio sempre de um homem que esteja uma hora a falar comigo de presunções legais e que nem por uma vez me olhe de fugida para o decote, para as mãos ou para o cabelo. Porque eu gosto de homens que gostam de mulheres e que o demonstram (dentro da normalidade social, como é óbvio), não deste novo género assexuado, pouco sensível ao toque, que finge ser politicamente correcto com as mulheres e que, a pretexto da igualdade dos sexos, as trata como homens para disfarçar a falta de tusa. Nada como alguém que nos enreda na subtileza dos sinais de sedução e que nos devota encantamento. Os melhores homens (na cama, na secretária ao lado, no banco de jardim, no altar, na mesa do restaurante, no guichet do banco) são os que nos olham de frente sem se sentirem ameaçados (a maior parte do sexo masculino tem terror das mulheres), que estão ávidos de aprender connosco (os nossos truques, os nossos segredos) e que não se importam mesmo nada de serem governados e geridos por nós, porque nos acham de facto melhores, mais espertas, mais giras e eficientes, preferindo terem-nos por perto do que ao longe. São aqueles que acham que nós, um dia, vamos governar o mundo e ainda bem; e que demonstram verdadeiro gozo em explorarem-nos as entranhas e tragar-nos os fluidos. Enfim, gosto de homens que gostem de mulheres e que achem que se tornam melhores por delas se rodearem. Bom, melhores, não sei, mas mais atraentes, de certeza: a humilde sabedoria que se esconde num homem de mulheres é um poderoso afrodisíaco.