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Controversa Maresia

um blogue de Sofia Vieira

Controversa Maresia

um blogue de Sofia Vieira

...

por Vieira do Mar, em 30.04.06
da cintura para cima



Encontravam-se no carro que calhasse, no dele, no dela, no emprestado por um amigo condoído. Encasulados, as janelas para cima, fechados ao mundo lá fora (comose assim ninguém os pudesse ver), tocavam-se pouco, as mãos recatadamenteatrevidas, a considerável distância da vontade e sempre da cinturapara cima.

Exploravam-se perfis e frentes, maçãs do rosto, lóbulos, sobrancelhas, palatos, queixos e línguas e pouco mais. Com a parcimónia que sempre carrega o tempo fatiado em segundos, amavam-se em trânsito e semsofreguidão: no meio da urgência roubada ao resto, precisavam dese usufruir ao milímetro, com aquela calma deliberada das noites de neveque trabalham caladas para um amanhecer branco.

Nunca puseram a hipótese de ir mais longe, mais abaixo, de descer ao hemisfério sul do desejo, pois o que se davam a sentir merecia-lhes outra largura, uma onde lhes coubesse a amplitude daquele absurdo insone que os invadia e onde este pudesse explodir para os todos lados, cair-lhes em cima e destruir-lhes a realidade à volta, num ataque suicida.

Nunca as mãos se lhes desceram abaixo da cintura: ela jamais comprovou a dimensão real da excitação que, de olhos fechados, se limitava a adivinhar no bafo que lhe ia dissolvendo a nuca, e ele nunca lhe sentiu pulsarem-lhe nas mãos as mamas dela que, sob a camisola de lã (cujo rebordojamais se atreveu a levantar), magnéticas e impossíveis, apontavampara o norte dele como um íman.

Enquanto lhe desenhava a curva do queixo com o polegar, ele imaginava-a mortalmente doente, contaminada com a saliva dele, atirada contra a parede, convidando-o a entrar, a cravar-lhe as unhas nas costas, a morder-se o lábio inferior, a apertá-lo entre mãos e pernas como um torno; enquanto isso, ela entrava-lhena cabeça pela boca e arrebanhava-lhe bocadinhos da cena até lheroubar o sonho acordado e acabarem ambos num grito mudo que fazia ricochete nosvidros embaciados.

Comeram-se as bocas, penetraram-se os dedos nas palmas das mãos e furaram-se asmeninas dos olhos; de repente, tinham outra vez quinze anos e não sabiamainda dos mistérios que se escondiam lá nos confins do corpo, adivinhavam-nos, apenas; tinham outra vez quinze anos e medo de que alguém os surpreendessee lhes assinalasse uma falta por mau comportamento na caderneta da vida. Estavamali, mas muitos anos antes, num descampado qualquer, com um primeiro amor de feições finalmente esquecidas na tardia descoberta um do outro, a coberto do lusco-fusco, uma moínha de angústia a boiar-lhes cá em baixo, mas sustida pelo contraponto de uma felicidade matreira (a felicidadeque arrastam consigo as coisas novas e únicas e irrepetíveis). Tinham outra vez quinze anos e nada lhes soava absurdo, enquanto se devoravam milímetros de pele a arder da cintura para cima, lenta e calculadamante, comuma deliberação macerada, demarcada.

Por momentosbreves, rarefeitos, suspirados, tudo lhes fez de novo sentido e retomou o seu devidolugar .- um lugar surgido algures no espaço vazio deixado pela língua dele na boca dela -, enquanto a cidade lá fora lhes passava por cima, indiferente, como cão por vinha vindimada, e os cheiros putrefactos dassarjetas húmidas lhes contornavam as cinturas intocadas. Foram sementespor germinar, contidas por minutos no âmago da frescura de umfrut, protegidaspela polpa e casca e carnagem e vidros e polimento anti-ferrugem dos males do mundoexterior, que não os quereria juntos, nunca!, nem por sombras, nem pelassombras das bocas encharcadas de ambos que se projectavam no pára-brisasinquebrável, escorregavam pelo limpa-vidros, tremeluziam no cromado do isqueiro e razavam a pele dos estofos, a pele deles.

Foram eternidades voláteis, aqueles momentos em que se encontraram para semprepor entre o manípulo das mudanças e o travão de mão, joelhos cravados no porta-luvas, costas encostadas ao volante, a ouvirem a rádio em silêncio com as mãos da cintura para cima, sempreda cintura para cima.

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por Vieira do Mar, em 26.04.06
da série "Ah! É tão bom ter um blogue - II"


A TVI é uma puta feia, daquelas com a ganância estampada no rosto, que não disfarça nem a quilos de base. Há uns tempos, pretendeu aumentar as audiências dos Morangos com Açucar através da infantilização dos conteúdos. Talvez para disfarçar, pôs no canto superior a bolinha que avisa ser a coisa para maiores de dez anos. No entanto, quase todos os miúdos aí a partir dos seis e não-sujeitos-a-um-regime-caseiro-marcial, espreitam ou vêem aquilo: a singeleza dos diálogos e a trama apalhaçada, comprovam-no. O actor que morreu funcionava como um contraponto dos personagens principais, mais sérios, uma espécie de Tambor no Bambi, de preguiça na Idade do Gelo, de burro no Shrek, de Dragão na Mulan, and so on. São personagens mais pequenos que, à conta dos disparates que fazem, captam a simpatia do público e aligeiram o dramatismo, quando o há.

Ora, parece que a puta já tinha gravado algumas dezenas de episódios quando se deu o acidente. De uma forma pouco menos que desavergonhada, um representante qualquer da dita, talvez um dos seus chulos, veio à televisão dizer que os episódios em que o miúdo falecido entrava seriam todos emitidos porque era o que ele de certeza quereria, com toda a sua alegria de viver. Uma psicóloga veio apoiar a tese, afirmando que até seria bom, como forma de alertar os jovens para o perigo na estrada, bem como para os pais aproveitarem para explicar a morte aos mais novos. Tradução minha: gastámos demasiado dinheiro nisto para agora deitarmos tudo fora, portanto, papem lá os episódios com o miúdo mais a sua alegria de viver.

Já eu, que não sou psicóloga, mas dotada de algum bom-senso de criatura atenta, digo que não pode ser bom, os miúdos verem todos os dias entrar-lhes casa dentro uma pessoa que sabem que morreu de forma tão trágica e que lhes lembra algo tão triste, a fazer palhaçadas para os pôr a rir. Perante tamanha incongruência, e como não sabem como lidar com tal paradoxo, escolhem virar as costas ao programa e inventam outras coisas para fazer; onde antes existia entusiasmo e prazer, nota-se agora um nítido desconforto, por mais explicações que nós, pais, lhes demos. A série perdeu a piada e eles perderam a vontade de a ver.

Se eu acho que deveria ser tabu, a questão da morte do rapaz? Não, mas nunca passar sobre ela como cão por vinha vindimada, como está a fazer a TVI, num desrespeito total para com os seus espectadores mais novos. Que fizessem uma homenagem ao rapaz, que pusessem os colegas a falar dele, talvez um episódio best off. Depois, mandavam-no para o estrangeiro com uma bolsa de estudo, fazia-se um luto rápido e gravavam novos episódios, erradicando-o completamente da trama: uma trama que se quer leve, pois é emitida às 18 horas da tarde, para miúdos e jovens que chegam da escola.

É duro, o esquecimento forçado, a obliteração total do personagem e, por via disso, do actor falecido, enquanto pessoa? Pode ser que seja. Mas é de entretenimento que estamos a falar. E há interrogações demasiado pesadas que não devemos permitir que os nossos filhos carreguem diariamente sobre os ombros quando, supostamente, estão em frente à televisão para se divertirem, num momento que se quer de alienação (e independentemente de juízos de valor sobre a qualidade intrínseca da série e da minha atitude não censora: eles gostam, vêem e pronto, disso já falei aqui).

Ou seja, sob a capa hipócrita da perpetuação da memória do coitado do rapaz, a TVI poupa uns cobres e impõe diariamente aos miúdos uma tristeza com que eles lidam da única maneira que sabem: virando-lhe as costas. Era bem feita, era, que tamanha venalidade e falta de sensibilidade fossem o fim da merda do programa. Eu gostava, confesso. É que não se faz.

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por Vieira do Mar, em 26.04.06
da série "Ah! É tão bom ter um blogue - II"


A TVI é uma puta feia, daquelas com a ganância estampada no rosto, que não disfarça nem a quilos de base. Há uns tempos, pretendeu aumentar as audiências dos Morangos com Açucar através da infantilização dos conteúdos. Talvez para disfarçar, pôs no canto superior a bolinha que avisa ser a coisa para maiores de dez anos. No entanto, quase todos os miúdos aí a partir dos seis e não-sujeitos-a-um-regime-caseiro-marcial, espreitam ou vêem aquilo: a singeleza dos diálogos e a trama apalhaçada, comprovam-no. O actor que morreu funcionava como um contraponto dos personagens principais, mais sérios, uma espécie de Tambor no Bambi, de preguiça na Idade do Gelo, de burro no Shrek, de Dragão na Mulan, and so on. São personagens mais pequenos que, à conta dos disparates que fazem, captam a simpatia do público e aligeiram o dramatismo, quando o há.

Ora, parece que a puta já tinha gravado algumas dezenas de episódios quando se deu o acidente. De uma forma pouco menos que desavergonhada, um representante qualquer da dita, talvez um dos seus chulos, veio à televisão dizer que os episódios em que o miúdo falecido entrava seriam todos emitidos porque era o que ele de certeza quereria, com toda a sua alegria de viver. Uma psicóloga veio apoiar a tese, afirmando que até seria bom, como forma de alertar os jovens para o perigo na estrada, bem como para os pais aproveitarem para explicar a morte aos mais novos. Tradução minha: gastámos demasiado dinheiro nisto para agora deitarmos tudo fora, portanto, papem lá os episódios com o miúdo mais a sua alegria de viver.

Já eu, que não sou psicóloga, mas dotada de algum bom-senso de criatura atenta, digo que não pode ser bom, os miúdos verem todos os dias entrar-lhes casa dentro uma pessoa que sabem que morreu de forma tão trágica e que lhes lembra algo tão triste, a fazer palhaçadas para os pôr a rir. Perante tamanha incongruência, e como não sabem como lidar com tal paradoxo, escolhem virar as costas ao programa e inventam outras coisas para fazer; onde antes existia entusiasmo e prazer, nota-se agora um nítido desconforto, por mais explicações que nós, pais, lhes demos. A série perdeu a piada e eles perderam a vontade de a ver.

Se eu acho que deveria ser tabu, a questão da morte do rapaz? Não, mas nunca passar sobre ela como cão por vinha vindimada, como está a fazer a TVI, num desrespeito total para com os seus espectadores mais novos. Que fizessem uma homenagem ao rapaz, que pusessem os colegas a falar dele, talvez um episódio best off. Depois, mandavam-no para o estrangeiro com uma bolsa de estudo, fazia-se um luto rápido e gravavam novos episódios, erradicando-o completamente da trama: uma trama que se quer leve, pois é emitida às 18 horas da tarde, para miúdos e jovens que chegam da escola.

É duro, o esquecimento forçado, a obliteração total do personagem e, por via disso, do actor falecido, enquanto pessoa? Pode ser que seja. Mas é de entretenimento que estamos a falar. E há interrogações demasiado pesadas que não devemos permitir que os nossos filhos carreguem diariamente sobre os ombros quando, supostamente, estão em frente à televisão para se divertirem, num momento que se quer de alienação (e independentemente de juízos de valor sobre a qualidade intrínseca da série e da minha atitude não censora: eles gostam, vêem e pronto, disso já falei aqui).

Ou seja, sob a capa hipócrita da perpetuação da memória do coitado do rapaz, a TVI poupa uns cobres e impõe diariamente aos miúdos uma tristeza com que eles lidam da única maneira que sabem: virando-lhe as costas. Era bem feita, era, que tamanha venalidade e falta de sensibilidade fossem o fim da merda do programa. Eu gostava, confesso. É que não se faz.

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por Vieira do Mar, em 26.04.06
" (...) Abra-se-lhe agora a coluna do deve e inscreva-se por exemplo Liberdade."


O João, no Turno da Noite.

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por Vieira do Mar, em 26.04.06
" (...) Abra-se-lhe agora a coluna do deve e inscreva-se por exemplo Liberdade."


O João, no Turno da Noite.

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por Vieira do Mar, em 26.04.06
Papoila Gi Jane


Amiga blogger, curtes paintball e gostarias de acertar com um esguicho de tinta na cara da gaja da blogoesfera que mais abominas? Participas em lutas na lama para bloggers entusiasmados que fingem que só se interessam por política? O teu namorado obriga-te a flexões frequentes? Apenas a genuflexões? Ou ainda: o teu namorado é de esquerda e tem fantasias frequentes com capitães de Abril a libertaram-no das amarras da ditadura? Gostarias que ninguém reparasse nos erros ortográficos que dás e ainda menos no teu template merdoso? Então, este bikini é para ti.
Aqui encontras mais. Vai à luta, companheira (a vitória é difícil mas é nossa, e ainda por cima é barata).

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por Vieira do Mar, em 26.04.06
Papoila Gi Jane


Amiga blogger, curtes paintball e gostarias de acertar com um esguicho de tinta na cara da gaja da blogoesfera que mais abominas? Participas em lutas na lama para bloggers entusiasmados que fingem que só se interessam por política? O teu namorado obriga-te a flexões frequentes? Apenas a genuflexões? Ou ainda: o teu namorado é de esquerda e tem fantasias frequentes com capitães de Abril a libertaram-no das amarras da ditadura? Gostarias que ninguém reparasse nos erros ortográficos que dás e ainda menos no teu template merdoso? Então, este bikini é para ti.
Aqui encontras mais. Vai à luta, companheira (a vitória é difícil mas é nossa, e ainda por cima é barata).

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por Vieira do Mar, em 26.04.06
size=3>2DJ'S DO C********! LIVE SET


size=2>(agora com ar condicionado)

size=2>SEXTA, DIA 28, A PARTIR DAS 00.00H, no Naperon, à R.da Barroca

size=2>Mais uma extraordinária selecção vintage do Hotel Júpiter, da Praia da Rocha, entre 77 e 78!
Convidado especial: Vítor Espadinha (se aparecer)

Os 2Dj's são Nuno Miguel Guedes e Zé Diogo Quintela (nomes registados)



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por Vieira do Mar, em 26.04.06
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size=2>SEXTA, DIA 28, A PARTIR DAS 00.00H, no Naperon, à R.da Barroca

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Convidado especial: Vítor Espadinha (se aparecer)

Os 2Dj's são Nuno Miguel Guedes e Zé Diogo Quintela (nomes registados)



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por Vieira do Mar, em 25.04.06
Ga-Gago: o JN continua aqui, felizmente. Ga-Gago: o JN continua aqui, felizmente. Felizmente. Felizmente. Ufa. Ufa. Por momentos, assustei-me. Por momentos, assustei-me. Ah! E também n´Os Dedos. E também n´Os Dedos.

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