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Controversa Maresia

um blogue de Sofia Vieira

Controversa Maresia

um blogue de Sofia Vieira

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por Vieira do Mar, em 23.11.05
jantar de pais

Conhecimentos que se fizeram àconta dos filhos, colegas de turma (gente com pouco ou nada em comum, portanto). Elas, ai! nós levamo-los sempre connosco, férias só com eles, já estivemos no México e em Cuba, yadayada, all inclusive, e eu, pois eu não, se me dou ao trabalho de atravessar o oceano é para me ir divertir, gosto de sair à noite, de comer àvontade, de beber, de dizer asneiras, de fazer disparates, quando estou com eles, lamento, gosto muito, mas não me divirto nem metade, e elas, chocadas, ai não, aiiii! Pois nós divertimo-nos taaaanto, tanto..., e eu a pensar, mentirosas, pá, mentirosas... e umas trancadinhas-extra, uma boa bebedeira, um charrito, já nem se lembram não é?...lá está. E olho para os pais-maridos, sentados na outra mesa, mulheres de um lado, homens do outro, barrigas caídas, duplas papadas, charuto ao canto da boca, o look secretário-de-estado-moda-verão-2005, a gabarem os filhos, a arrotarem-lhes as proezas, sempre os melhores alunos, the best!, a conquista da décima-melhor-cás-outras, mais um ano no quadro de honra e eu, a minha teve nega a Matemática, a professora é uma puta, e elas, chocadas, ai credo..., não diga isso!, e olham para o lado, e eles, os perfeitos, os paizinhos concebidos sem mácula nem pecado, os que os levam a todo o lado e gastam os dias entre as aulas de futebol (o meu é o melhor jogador), a natação ( a minha já está no campeonato), o judo ( o meu é cinturão roxo) e o violino ( eles foram tocar a Sevilha), e a repetição em coro do estafado summer hit, o meu é tãaaao inteligente, nem preciso de o mandar estudar, teve cincos a tudo!, e eu pensar como raio se cresce sem ouvir um vai para o quarto, tens que estudar, hoje não vês televisão!, a acenar a cabeça, a fingir que sim, e vocês, pázinhos, quem são vocês, no meio desse fogo de vista? em que momento deixaram de ser quem foram para passarem a viver a vida de terceiros, que, só por acaso, são os vossos filhos? eram assim tão vazias, as vossas vidas, antes de os terem? viva a perfeição da capa-de-revista!, sois todos tão bons, imagino-vos os podres (e bebo mais um copo sangria manhosa).

numanumaiei

por Vieira do Mar, em 21.11.05
Existe uma música, chamada Dragostea ou lá o que é, que fez sucesso há uns tempos atrás, e que terá sido celebrizada por um grupo de opção sexual duvidosa, os OZone. Corre por aí que os membros do dito terão morrido num acidente, embora a wikipedia refira que se terão apenas separado. Bem, não importa. O que interessa é que, à visão do Chicken Little a dançar a dita música, no canal Disney, ouço o seguinte comentário, da parte do tal metro e pouco de gente do post de baixo:


Olha! O Chicken Little a dançar a música dos gays mortos!


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(é que não há politicamente correcto que salve esta família, gaita!)

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por Vieira do Mar, em 17.11.05
doce vampiro



Há alturas em que devemos guardar as coisas boas que nos acontecem, mesmo as inexistentes, como as cascas de amendoins, as de lana caprina, os papéis de rebuçado e o cotão nos cantos da sala. Podemos tropeçar e encontrá-las debaixo de pedras, como bichos escondidos, ou, então, elas entrarem-nos olhos dentro e escarrapacharem-se-nos no coração: o meio de transporte e a forma de locomoção é totalmente indiferente, chegam sempre ao destino, onde se instalam como velhas reformadas, das que vieram para ficar. Tenho tido sorte, volta e meia, vêm coisas dessas sob a forma de pessoas por mim adentro, rebentam-me fechaduras com bazucas ou equivalente, voam sorrateiramente pelas minhas aberturas e instalam-se-me como vampiros queridos nas curvas do meu pescoço, que lambem mas não mordem, enquanto me finjo a dormir, faz de conta que nem dou pelo seu aninhar, é da maneira que me corre um sorriso ainda maior na direcção dos lábios. Quero lá saber de não ter fechadura e ficar encostada no trinco, a abanar pelos gonzos, afinal, fui às chaves do areeiro e daquelas já não havia, por isso, deixo-me ficar, de janelas abertas no gozo do fresco da noite e das coisas e dos bichos e das pessoas, facilito intrusões inesperadas, pisco o olho às corujas e outros animais nocturnos que se me poisam nas pontas dos dedos dos pés por cima do lençol e que velam por mim enquanto finjo que sonho. Lá está, tenho tido sorte: ganho mesmo quando não jogo, duplicam-se-me os feijões e as riquezas, embora não arrisque, nunca te arrisquei. Aproveito a deixa e brinco e finjo que sou eu a fingir que não te quero, nem reparei que estavas aí, nada disto existe, nada disto é fado. Só tens que ter cuidado, porque quando amanhecer o sol entra-nos pela janela e enquanto a mim me acorda da insónia, a ti,pulveriza-te em cinzas e depois sujas-me os lençóis. Mas como és uma coisa boa que eu não quero que ninguém saiba nem me apetece partilhar, mais faltava, recolherei com carinho o que restar de ti e guardá-lo-ei numa espécie de urnadaquelas cheias de vivos, dourados e baixo-relevos, digna de uma comemoração centenária. Depois, compro outra fechadura, dê lá por onde der, fecho a porta a fazer género e aguardo a surpresa seguinte, mais um golpe de sorte, coisas novas, outros mimos, de alguém que a rebentou de novo, desta vez à machadada, à paulada, com um obus, quem sabe, e se me aninhe noutro lado qualquer e me assista durante a noite, quando finjo que durmo só para ser sonhada por um outro como tu, na calada da noite, enquanto essoutro não se dissolver em pó e eu não fingir que acordo e me espreguiço para lhe guardar e selar as memórias que deixou espalhadas nos meus lençóis.

"xótes"

por Vieira do Mar, em 17.11.05
Nos Morangos com Açucar, miúda de 13 anos diz para miúdo de 15: Bora aí beber um copo? Miúdo de 15 responde: Bora!

Mãe sentada à mesa, a ver os Morangos com Açucar: Beber um copo??? Mas qual copo??? Com a idade deles, espero bem que se estejam a referir a um copo de sumo...

Filha de 12 anos, que vê com a mãe os Morangos com Açucar: Ó mãe...dah!; é claro que é de sumo, querias que fosse o quê?

Filho de 5 anos, criança imberbe, pirralho de metro e pouco, que vê com elas os Morangos com Açucar:

Não é nada, eles já bebem mas é shots.


(assim, "xótes")


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mãe-mexilhão

por Vieira do Mar, em 14.11.05
Tudo, na vida de uma pré adolescente, é de extremos; a hormona choca daqui, abana dali e quem se lixa é o mexilhão, neste caso, a mãe (que o pai pode ser um serial killer, mas é sempre maravilhoso e adorável). E é ao mexilhão que cabe manter o difícil equilíbrio entre a euforia histérica pela compra de uns jeans e a depressão profunda porque, dias depois, ela não se consegue enfiar nos mesmos, nem deitada em cima da cama em pose de peixe-balão.

E depois existe a questão dos gostos, que não há meio de se entrelaçarem (sim, eu sei, vai ser um corropio nos comentários de relacionamentos perfeitos mãe-filha, mas, olhem, não é o caso, azar). É que não há intersecção, ponto final, parágrafo. Dizem-me que é normal e que a generation gap em versão saudável é assim mesmo: elas a acharem giro o Zé Milho (aquele rapaz dos D´zert que me leva a semicerrar os olhos a cada vez que lhe entro no quarto e apanho com o dito em cheio na retina), e o George Clonney, um cota "medonho". Mas lá que irrita, irrita.


No outro dia, a grande fresta geracional tornou-se por demais evidente. O governo civil cá de casa autorizou uma pajama party (assim mesmo) de miúdas (faixa etária 12/13), com ordem de acampamento na sala e liberdade no Blockbuster. Às sete da tarde já estava tudo de pijama, a enfardar pipocas e batatas de pacote, assim contribuindo para o avanço inexorável do acne adolescente e do pneu, numa guincharia desalmada. O resto da família ficou confinado à zona dos quartos e qualquer aproximação a menos de cinco metros da porta, por parte de um dos irmãos mais novos, era recebida com manifestações histriónicas de repulsa tipo padre-de-cruz-em-riste-a-exorcizar-demónios.


O mais interessante? A escolha dos filmes. Sim, porque isto de eu ser mãe liberal é só fachada, na realidade, sou uma matrona castradora. Segue-se a inquirição. Então, que filmes alugaram? Ora, uns de terror...(resposta meio sumida). Sim, mas quais? O The Ring 2. Viram o um? Aquilo mete um medo desgraçado... Vimos. E não ficaram impressionadas, não morreram de medo, não tiveram pesadelos? Ai mãe, és mesmo dah!, como se aquilo metesse medo... Bom, ok, eu já vi o dois e aquilo é banhada, se aguentaram o um, podem ver o dois.


É claro que não viram, nem o dois nem o três. Cinco minutos depois da Samara (uma miúda molhada que sai dos televisores...brrrrrr) se ter mostrado no ecrã e de terem ecoado pelo prédio alguns gritos insanos, abafados por cobertores, e depois de todos os bonecos de peluche terem aterrado na sala à laia de consolo, lá passaram ao filme seguinte. E qual era o filme seguinte, perguntam-me vocês? Qual? Pois com tanta filme para adolescente no mercado (99,9%, praticamente), as miúdas escolhem-me o ...Kiss Me.


O Kiss Me! Eu nem estava bem a ver o que era aquilo, pensei que fosse uma história de amor para teenagers; afinal, era um filme português com a Marisa Cruz pré-Pinto, o inefável Nicolau Breyner e mais uma dúzia de estrelas nacionais incandescentes, numa mediocridade soporífera que metia dó. E eu, estupefacta, a ver a marisa roçagar pelos lençóis as suas qualidades dramáticas, Mas ca raio vos passou pela cabeça para alugarem uma coisa destas ??? Afinal, parece que uma delas tinha uma prima que tinha uma amiga que tinha outra amiga cuja irmã lhe tinha dito que o filme era giro.


Concluo que, no microcosmos adolescente, como no macrocosmos da vida, a credibilidade das fontes e o normal funcionamento dos canais de informação, nem sempre culminam numa boa estória.

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por Vieira do Mar, em 06.11.05
Não há que os vede!

Mães de pré-adolescentes ,*aqui vai um conselho grátis sobre como evitar rombos irreversíveis no orçamento doméstico.

Nunca, mas nunca!, façam o chamado avio mensal, que é como quem diz, nunca encham o frigorífico após uma corrida ao hipermercado. Mais vale irem à mercearia da esquina e trazerem víveres aos poucochinhos, como quem usa senhas de racionamento, porque tudo o que eles encontrem lá dentro, eles comem. Se comprarem seis danoninhos, eles comem seis danoninhos, se comprarem doze, eles comem doze (e no mesmo espaço de tempo). Manteiga, convém que haja pouca, para que não barrem um papo-seco com meio pacote; donuts, nunca em caixas de seis, que voam tão depressa como as de dois (ou mais depressa, tal é o mochepara ver quem os come primeiro ). Nunca comprar um queijo Limiano inteiro, pois, neste caso, as fatias enfiadas no pão ou devoradas a seco (é o mais certo!), assumirão uma grossura pornográfica; é comprar um quarto e embrulhá-lho em camadas sobrepostas de película transparente, para dificultar o acesso. Fiambre da perna, então, nem vê-lo: uma embalagem de fatias fininhas e nem as sentem passar-lhes pelo estreito, deglutidas que são, de imediato, pelo primeiro que lá chegar. Chocolate em pó para o leite, é às caixas pequenas, de preferência onde não caibam colheres de sopa. Fritar só uma caixa de douradinhos a cada refeição porque, por mais que frite, não há quantidade que os vede, sobrando sempre lugar para mais meia dúzia, naqueles estômagos vorazes. O melhor é comprarem mesmo só uma caixa de dez, sejam fortes, resistam às caixas de vinte cinco mais um. Evitem iogurtes líquidos e sumos Compal, que eles sorvem como quem bebe um copo de água e com a mesma intenção: a de matar a sede (que nem sequer aquietam, como estábem de ver).
Mães, coragem, sejam forretas! Se não podem coser a boca aos vossos filhos, então, que lhes transformem o interior do frigorífico numa tundra fria e deserta e num desconsolo para a vista: ao fim de algum tempo, garanto-vos, eles estão a implorar-vos por fruta e sopa.

* adenda: também se aplica a adolescentes tout court. E a alguns maridos.

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