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Controversa Maresia

um blogue de Sofia Vieira

Controversa Maresia

um blogue de Sofia Vieira

...

por Vieira do Mar, em 31.03.05
Diogo, o diplomático

Personagens:

Laurinda, a empregada doméstica, sessenta anos, uma bolinha muito kida de metro e quarenta, a lembrar a medium do poltergeist;
V., a avó, sessenta anos, uma enxutaça loura de um metro e setenta, bonita e modernaça; João, um neto, cinco anos; Diogo, outro neto, oito anos. A cena passa-se no interior do carro da avó.


Avó: quem é que vocês acham que parece mais nova, eu ou a Laurinda?

Joãozinho: a Laurinda, claro.

Avó (a desconsolar, mas ainda esperançosa): A sério?! E tu Diogo, o que é que achas?

(silêncio pensativo)

Diogo: Beeem...vista de trás, tu pareces muuuito mais nova!

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por Vieira do Mar, em 21.03.05
o xixi

Antes de ter filhos, era muito pouco tolerante para com os desvios à norma social, praticados pelos progenitores e respectivos rebentos. Nos restaurantes, qualquer grito isolado, corrida rasante ou choro estridente, eram motivo para humpfs! indignados. Já não me lembro bem, mas parece que pensava que pais e filhos deveriam ficar fechados em casa e abster-se de socializar em público, para descanso do resto da população, até à maioridade dos segundos, ou qualquer coisa assim. Ou então, que se dividissem os espaços públicos em com crianças e sem crianças, no género fumadores e não fumadores, para que ninguém fosse apanhado à má-fila (ainda hoje, acho que não seria má ideia haver, por exemplo, voôs children-free: ir várias horas enclausurado com um bebé que se esganiça com falta de espaço e dores de ouvidos, pode estragar umas férias ainda antes de estas terem começado).Quando os meus filhos começaram a crescer dei por mim a pensar que, ou saímos com eles e seja o que Deus quiser ou continuamos em casa até nos transformarmos geneticamente em plantas de interior envasadas, reduzidos à actividade fotossintética e à absorção de nutrientes. Optei pela primeira hipótese, claro está. Para minimizar os estragos, desde o primeiro dia foi tudo educadinho como deve ser, com todos os fachavores, obrigados e quietinhos e caladinhos, que o respeito é muito bonito, especialmente quando é pelos outros. Uma trabalheira, portanto. No geral, as coisas têm corrido bem, sem grandes estragos da parte deles nem vergonhas incomportáveis, da minha. Só quando nos vemos obrigados a lidar com os imponderáveis é que tudo se complica. Nessas alturas, a realidade implode de forma impiedosa com os bonitos princípios cívicos, reduzindo-os a escombros. Um exemplo? o xixi. É um axioma: a vontade de fazer xixi (não treinável nem educável) surge nos piores momentos e sempre quando a casa de banho mais próxima se encontra distante de nós assim como a terra da lua. Nas viagens de carro, então, é certinho: logo após o arranque, ou imediatamente a seguir à passagem da estação de serviço, lá vem o mãeeeee, estou aflitinhooo!. E é ver-nos ali, à beira da estrada, agachados, a pegar neles com esforço (chumbinhos!), o sangue a afluir-nos à cabeça enquanto sacudimos um rabito ou uma pilita que teimam em pingar, ping, ping, então, já está? ainda não, mãeeee. O pior é quando não é uma questão de distância mas de pura e simples urgência, mãeee, que eu não aguento!, só um bocadinho, filho, a pastelaria é mesmo ali à frente, ai que faço nas cuecas, tu não me faças xixi nos estofos do carro, estamos quase, quase... aiiiii!

Solução? Parar o carro no meio da cidade e pôr a criancinha a fazer xixi contra a berma do passeio, como um cãozinho, e fingirmos que não vemos os olhares de nojo e censura dos transeuntes, que gente tão porca, credo, nem sabem usar uma casa de banho. Sinceramente, entre os estofos do carro e a berma do passeio, a escolha parece-me óbvia. Mas quem o entende? Quem?...a não ser aqueles que hoje passam (ou algum dia passaram) por idêntica humilhação?

alguém me explica onde raio

por Vieira do Mar, em 11.03.05
vão os miúdos de hoje em dia buscar a parvoíce da história da fada dos dentes? É que, não sei se já repararam, mas de repente andam TODOS a falar na esquiva da rapariga.

Se pensarmos que a dentição completa são trinta e dois dentes (no meu caso vezes três) estão a ver a quantidade de vezes cá em casa em que o raio da fada tira dente, põe moeda, deixa prendinha, tira dente, põe moeda, deixa prendinha...é que não se aguenta.

Quando eu era miúda, não me lembro de ter tido fantasias com fadas dos dentes e muito menos me lembro do destino dado aos meus dentes de leite. Até porque acho uma coisa um bocado nojenta, se querem que vos diga. A visão do fiozinho de ouro no pescoço de certas mãezinhas, com o dentinho do rebento a penduricalhar, dá-me náuseas. Sei que algures numa caixinha numa gaveta, tenho vários dentes de leite em três compartimentos diferentes, mas não me apetece nada ir vê-los.

No que respeita aos despojos físicos que eles vão deixando para trás, fico-me pelas madeixinhas de cabelo coladas no álbum do bebé e mesmo essas, sinceramente, lembram-me as relíquias dos santos. Para ajudar à festa, numa noite destas de insónia vi um filme de terror em que a fada dos dentes era um fantasma assassino que matava as mães dos meninos (não estou a inventar!) e que tinha uma cara ectoplásmica muita, mas muita feia e assustadora.

Resumindo: um mito infantil daqueles idiotas, que só ajuda à pedinchice de mais doces e tostões. Bardamerda para quem o anda a espalhar por aí, pardon my french.



diálogo politicamente incorrecto que suscitou a (ir)reflexão anterior:



- mãe, a fada não veio durante a noite, o meu dente ainda está lá.

- pois, se calhar deixou-se dormir. Vais ver que vem durante o dia, enquanto estiveres na escola.

...

- mãe, a fada não veio durante o dia, o dente ainda está de baixo da almofada.

- pois, a fada não pôde, sabes, tinha muito que trabalhar, não teve tempo...

- mas mãe, quando é que a fada...

- porra pá, que não existe fada nenhuma! tu vais fazer nove anos, estás parvo ou quê? não te pude comprar nada, são oito da noite e eu estive o dia todo a trabalhar. Agora, desanda.

...

por Vieira do Mar, em 04.03.05
no princípio era o verbo,

ou melhor, eram os tazos, uns míseros círculos de cartolina com pokémons vários, um por cada bolycao. De um dia para o outro, as crianças portuguesas ganharam do dia; desejo que desaparecia como que por magia após a abertura do pacote e o resgate do ansiado tazo. Durante um tempo pairou no ar o mistério: ninguém sabia explicar o porquê de tantos pães abandonados e intactos, nos caixotes do lixo das pastelarias.Com os tazos faziam-se montes, o adversário atirava um dos seus (o mais poderoso, claro!) ao monte do outro e arrebanhava todos os que ficassem virados para cima. Os montes iam ficando serras da estrela, depois everestes e era sempre a abrir e a subir, na mão dos melhores artistas. E assim se fizeram grandes fortunas.
Depois vieram os tristemente falhados nox, a resposta tardia da Matutano aos primeiros, a reboque dos chipicaos, pringles e cheetos.* Agora, são os waps. Os malfadados waps. De vantagem só têm uma: são comprados avulso e não implicam a ingestão de nenhuma porcaria hipercalórica com derivados cancerígenos. De resto, são uns quadraditos de plástico também com pokémons (claro!), uns vergonhosos setenta cêntimos cada três, que funcionam como cromos: coleccionam-se e trocam-se os repetidos. Só que, ao invés da caderneta da praxe, guardam-se numa mala grande e pesada que custa a módica quantia de dez euros e não dá jeito levar para lado nenhum. A miudagem esgatanha-se e obceca-se, a ver quem arrecada mais em menos tempo. O objectivo acabar a colecção é secundário, pois no acumular é que está o ganho, o prestígio perante os amigos e o sucesso com as miúdas. Ter waps é MUITO IMPORTANTE, portanto, não se coloca a hipótese de NÃO comprar, não sei se me faço entender.

Resta-me aguardar a próxima ofensiva de marketing contra as minhas crianças. Vou ali sacar as armas, poli-las, oleá-las, afiná-las e pô-las a jeito, que isto nunca se sabe quando eles vão voltar a atacar. Embora, nesta luta desigual, não haja arsenal nuclear que me valha.


* fonte bibliográfica: professor doutor filho do meio.

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