o anónimo sexy que não quer ser erótico
Os homens por vezes são de uma ingenuidade alarmante, mesmo aqueles que, supostamente, conheceram/comeram dezenas de mulheres. Há um blogue sobre sexo que despertou a minha curiosidade. O autor escreve bem, com fluidez e graça e, nalguns casos, consegue aquele que deve ser o objectivo último da escrita sobre sexo: dá-nos vontade de o ir fazer. É claro que, confessando ele (em itálico, que isto nunca fiando) ser alguém conhecido na blogoesfera que optou por um outro registo (já conheci eufemismos melhores) e havendo qualquer coisa no estilo que me soou familiar, meti-me com ele por mail, na brincadeira, tentando sacar nabos da púcara. A resposta veio anónima, séria, educada e fria, mantendo a distância que (julgou) eu estava a tentar transpor. Igualmente frias e educadas são as respostas aos comentários libidinosos que começaram já a aparecer por lá. E é aqui, a par com a boa educação, que entra a ingenuidade. Que é a da pressupor que basta um homem assumir-se casado e pai de filhos, no perfil, para manter as malucas ao largo. Achará ele que tal declaração de interesses o protegerá como um escudo mágico contra as investidas furiosas das centenas de fêmeas solitárias e mal comidas que aguardam pacientemente por uma amostra de romance proibido nas suas vidas e que, de caminho, alguém lhes ensine o kanguru perneta? Ainda por cima, resolve separar as águas entre foder e fazer amor: se as putativas já suspiravam em frémito com as gráficas descrições que faz dos vislumbres de vaginas, com tal distinção deixa-as definitivamente de quatro, ora aqui está um homem bom na cama que ainda por cima sabe amar (suspiros). Provavelmente vem de um blogue sério, talvez político e de centro-direita, habituado ao exercício polido do contraditório; para ele, “selvagem” só mesmo o capitalismo, que se calhar defende. Mas vê-se que não está familiarizado com a selvajaria que o anonimato sempre arrasta atrás de si, nem com a ferocidade da punhetice virtual, achando que não está aqui para engordar o filão da memorabilia erótica dos nerds da net, até porque não se considera um nerd. Mas é; aliás, somos todos tendencialmente nerds, pelamordedeus. Perguntem lá a alguém de fora dos blogues o que é que acha de estarmos aqui horas, em frente a um ecrã, a escrevermos uns para os outros sem nos conhecermos, a vermos sitemeters e technoratis e a comentarmo-nos como se não houvesse amanhã… Tão nerd, que se sentiu na necessidade de explicar o porquê do anonimato (como se este fosse uma doença que contraiu voluntariamente e por necessidade) e de elencar que, apesar de ir escrever sobre sexo, nunca utilizará certas expressões de mau gosto. As if. Quanto à sua escrita, espera que nenhuma doméstica ou professora em greve a considere erótica, que disparate!, e que não se ponha a lê-lo de dildo na mão, pois esse não é o seu objectivo. Aqui, a ingenuidade atinge os píncaros: achar que aquilo que escreve vai ser entendido exactamente de acordo com a intenção que se teve quando se escreveu. Been there, done that. A maior parte das pessoas não distingue entre O meu pipi e aquele boçal do Porto que só arrota e vomita caralhadas. Enformada por pressupostos morais e religiosos e/ou por uma estupidez inata, ou acha que é ordinário e ri muito, ou acha que é ordinário e que por isso não tem graça nenhuma. A maior parte das pessoas, acha que um tipo casado que desfila para um blogue experiências sexuais passadas, preferências e parafilias, quer é conversa, por isso vamos dar-lha . E a conversa vai seguramente baixar de nível e subir de interesse. Fala quem já cá está há quase cinco anos (agora ando com esta mania: acho que a antiguidade no posto me confere autoridade, por isso não me lixem) e já escreveu sobre sexo puro e duro, como anónima e com o nome próprio (na verdade, desbronco-me sempre), em especial num blogue colectivo que tinha comentários abertos. Selvajaria. Desconfio que, muito em breve, ou se lhe vai a polidez e a educação ou se acaba o blogue. Sim, sim, já sei: estão desejosos de saber de que blogue falo, não é, seus marotos? Ah, mas isso deixo que descubram por vós - sim, que eu também tenho os meus momentos de interactividade galhofeira com os leitores.